ABRUPTO

30.5.08


COISAS DA SÁBADO:
NOVOS MECANISMOS DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO (DOS JORNALISTAS)




Quem esteja atento aos órgãos de comunicação pode aperceber-se de um novo mecanismo de formação da opinião jornalística, da opinião dos profissionais do jornalismo, cujo impacto no produto final, no jornal, na rádio, na televisão, é decisivo. Esse novo mecanismo são os blogues, agora com novos aspectos. Podemos considerar que houve uma Fase 1: o mundo dos jornalistas ia buscar temas e inspiração aos blogues, mais ou menos à socapa, sem citar ou citando contrariados, numa relação de hostilidade contra os blogues, tidos ou como adversários ou como exemplo de um subjornalismo, sem crédito e a que não se devia ir sem pinças e máscara. Hoje estamos na Fase 2: os jornalistas não só mergulharam no mundo dos blogues como se tornaram autores de blogues, absolutamente idênticos aos outros blogues, tribais, opinativos, obcecados pelas audiências, manifestando com clareza ódios e amores, ligando-se e desligando-se entre si, e transportando para os jornais as lógicas e movimentos típicos da blogosfera. Quem parece estar a “ganhar” na blogosfera, passa a “ganhar” nos jornais, pela razão simples que os artífices de um ou outro mundo são os mesmos e a ferida narcisista, como se sabe a mais profunda no meio dos blogues, passa a ser também a ferida no meio dos jornais.

Esta é uma péssima evolução para os dois lados, para os blogues e para os media. Por um lado, porque marca o fim da relativa independência dos blogues da agenda jornalística, assim como o enfraquecimento da crítica nos blogues aos media tradicionais (agora criticar um jornal é criticar o blogue dos jornalistas desse jornal), e, por outro, é transportar para as redacções ainda mais do mesmo, opiniões ligeiras e fáceis, cinismo para os outros, amiguismo para os nossos, campanhas que prolongam as campanhas nos blogues, lugares comuns que ninguém contesta, nem analisa, mas são as buzzwords na moda na blogosfera. Tudo isto já existia e não é novo, mas diluía-se mais no conjunto do anonimato jornalístico. Podia ser motivo de conversa no Snob, mas agora é a persona do jornalista(s) no seu blogue(s) que também está em causa. E o narcisismo cresce exponencialmente e radicaliza a postura, piorando o trabalho jornalístico. A única vantagem é que se percebe melhor, muito, muito melhor.

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© José Pacheco Pereira
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