ABRUPTO

17.5.08


ANTI-HUBBUB



27. DOIS MUNDOS

A sondagem de hoje no Correio da Manhã deve ser lida com a prudência de todas as sondagens, mas os seus números são tão esmagadores que, mesmo com as máximas reservas, apontam para um resultado claro: quer os portugueses, quer os eleitores do PSD preferem Manuela Ferreira Leite de longe a qualquer outro candidato.

Quem tem mais hipóteses de vencer eleições a Sócrates? (Apenas eleitores do PSD)

Manuela Ferreira Leite: 64,1%
Santana Lopes: 20%
Pedro Passos Coelho: 5,8%
Mário Patinha Antão: 1,6%
António Neto da Silva: 0,1%
Outro nome: 0,3%
Indiferente: 1,5%
Sem opinião: 6,6%

Quem é o melhor candidato? (Nesta pergunta não foi sugerido qualquer nome - Eleitores do PSD)

Manuela Ferreira Leite: 40,8%
Santana Lopes: 13,2%
Alberto João Jardim: 7,5%
Luís Filipe Menezes: 4,5%
Pedro Passos Coelho: 3%
Marcelo Rebelo de Sousa: 2,5%
Cavaco Silva: 1%
Outro nome: 4,1%
Sem opinião: 23,4%

Há pelo menos uma conclusão que se pode tirar desta sondagem: existem dois mundos, um o dos eleitores do PSD e dos portugueses, outro o de alguns responsáveis de estruturas do PSD. Quando Marco António diz que os militantes da sua Distrital preferem "esmagadoramente" Passos Coelho, Carreiras aponta Jardim como o "melhor candidato", Bota afirma que o PSD só vence com Santana Lopes, que mundo interior é este tão distanciado do mundo exterior? Este ecrã, esta intermediação entre os militantes e a realidade nacional é um dos factores de crise do PSD. Obedecem a lógicas muito diferentes: uma, uma lógica pessoal de preservação dos pequenos poderes e influências internas (falar em nome do PSD, escolher pessoas para os lugares, defender "espaços" políticos próprios, influenciar as escolhas, impulsionar a sua própria carreira política de profissionais partidários); outra, uma lógica exterior de políticas e métodos reconhecidos como meritórios pelos portugueses.

Escrevi um livro sobre isto, não preciso de me repetir. O divórcio entre estes dois mundos começou no tempo de Cavaco Silva, mas acelerou-se nos últimos cinco anos, e conheceu o seu momento mais grave em 2005, numa corrida ao abismo anunciado, previsto, inevitável, que todos menos os unanimistas que num Congresso deram uma votação albanesa a Santana Lopes, quiseram ver. Repetiu-se em 2007, e, se não for travado, repetir-se-á em 2008. É só isto que está em causa nestas eleições cruciais e só isto que explica tanta acrimónia, tanto afã, tanto desespero, porque para muitos é uma espécie de despedimento colectivo.

É exactamente por isso que, como se diz no Expresso de hoje, todas as quatro candidaturas são hoje "menezistas" nos seus apoios e todas são contra Manuela Ferreira Leite. A questão está em saber até que ponto existe ou não voto livre no PSD, até que ponto o militante trazido às urnas pela diligência ímpar de um cacique e que lhe diz pelo caminho, "sem dúvida que vou votar no Passos Coelho, ou no Santana Lopes" chega lá e vota Manuela Ferreira Leite, em consonância com o país e com os eleitores do PSD.

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© José Pacheco Pereira
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