COISAS DA SÁBADO:A LÓGICA DOS SINDICATOS E A LÓGICA DOS PROFESSORES
As notícias sobre as grandes cedências do Ministério da Educação aos Sindicatos de professores correm o risco de terem sido muito exageradas. Menezes, Portas, alguns comentadores e blogues, vieram logo dizer que o verdadeiro Ministro da Educação era Mário Nogueira da FENPROF e que Maria de Lurdes Rodrigues era a “ex-ministra”. Depois veio Mário Nogueira, cinco segundos depois, ainda o acordo estava fresco, falar da “grande vitória” não fossem as pessoas aperceber-se de alguma coisa bizarra e perceber que a avaliação afinal continuava mais ou menos como estava. A frágil Ministra aparecia a falar mansamente nas mesmas televisões, dizendo que tinha havido um “acordo” e isso era bom, mas que estava salvaguardado o essencial, a “avaliação estava a fazer-se e ia continuar a fazer-se”. Mas o que são estas palavras tímidas e quase sussurradas face à tonitruante declaração de vitória sindical, a seguir confirmada pelo espelho da incoerência da oposição que, sem estudar, nem saber nada do que realmente tinha sido conseguido ou não, sem falar com os professores, veio logo com a conferência de imprensa fácil declarar que houvera “um grande recuo do governo”?
Ora, homem sensato desconfia quando há tanta pressa de correr para a televisão a dizer que se ganhou e ainda por cima em grande. Homem sensato sabe como funcionam o PCP e os Sindicatos, sabe como eles estavam num beco sem saída criado pela sua própria vitória. Depois de contribuírem para a gigantesca manifestação sabiam que não podiam dar continuidade à “luta” com uma greve e tinham que recuar. Homem sensato sabe que, por muito sucesso que tenha tido e teve, a luta dos professores, a seguir à manifestação viria um refluxo, como veio. Sabe o homem sensato e sabem melhor do que ele os sindicalistas profissionais. Homem sensato e com memória já viu muitas vezes como para os comunistas e os seus sindicalistas, o mais importante não são os anéis, são os dedos. Os dedos aqui são manter o adquirido e o adquirido é o reforço dos Sindicatos e do PCP na vida pública nacional, pensando também em 2009, ano de eleições. Nunca, jamais, em tempo algum, organizações mais experientes a dormir que mil líderes da oposição acordados, sabem que não podem correr o risco de ir mais longe e pôr em causa a percepção de vitória, com aventureirismos ou impasses cujo apodrecimento mostraria as fragilidades sindicais. O PCP e os seus Sindicatos sabem, melhor do que ninguém, que precisavam como pão para a boca de um acordo e sabiam que o Ministério também precisava do mesmo. Um precisava de parecer que ganhava e o outro de parecer que cedia.
Foi por isso que, de repente, se chegou a um acordo que, pelos vistos, os “professores”, citados pelos jornais, entendem como uma derrota e não como a “grande vitória”. Percebe-se porquê: os professores que se manifestavam não queriam, na sua esmagadora maioria, nenhuma avaliação de desempenho, e vai continuar a haver avaliação. Eles sabem disso, os sindicatos sabem disso, a Ministra sabe disso, o resto é coreografia.
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Acabo de ler a sua entrada (post) sobre as dinâmicas políticas que animam os eventos recentes entre Min.Edu. e Sindicatos. Do ponto de vista político, nada acrescento. Porque me parece coerente com o que vou aferindo da conduta sindical. E do Min.Edu. e da Ministra, em particular.
Mas, sendo docente e tendo participado na manifestação de dia 8 de Março (porque já tinha participado nas infindáveis e muito complexas reuniões de Departamento e Grupo para estudar/preparar/implementar um modelo de avaliação... impraticável), espanto-me que conclua que "os professores que se manifestavam não queriam, na sua esmagadora maioria, nenhuma avaliação de desempenho". É falso. Tanto quanto pude discutir com inúmeros colegas - não é todos os dias que se pode contactar com colegas de diferentes escolas e regiões - o que se pretendia fazer, como mostra todo o comportamento da titular da pasta da Educação, era criar dificuldades nas escolas. Promovendo uma percepção social negativa dos professores e do seu trabalho. Assim conseguindo apoio para "acabar com os privilégios desses que não trabalham". Desse modo, domesticava a classe docente, impondo um edifício legal que corrompe a própria natureza do que é suposto fazermos: ensinar. Se analisarmos outras peças desse edifício legislativo, veremos que o que esta equipa ministerial pretende é nocivo e (até) contrário aos desígnios estatísticos que pretendem para o sistema educativo nacional. E é pena que sejam apenas estes desígnios a motivar o que quer que seja para a Escola Pública. O que ficar de toda esta confusão, não será bom. E durará. Por outro lado, a reacção (de uma parte apreciável, asseguro-lhe) negativa da classe docente ao "entendimento" prova, não que receia a avaliação, mas que os problemas são muito sérios e têm que ser tratados para lá das dinâmicas políticas que animam os seus representantes (Min.Edu. e Sind). Nasceram tarde para estes problemas? Talvez, mas porque têm um dilema complexo na sua representação institucional e social: segundo parece não podem escapar da representação sindical e à sua... agenda. Enquanto coincidiam, a convivência era possível, mas a bolha rebentou e há muita gente que, não se revendo, procura alternativas. Se as encontramos, não sei.
(Luís Vilela.)
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Este acordo, perdão, entendimento, era uma questão de tempo e de timing político. A partir do momento em que o Ministro Correia de Campos “pediu para sair” e o Primeiro-ministro não sugeriu igual pedido à Ministra da Educação, a que se juntou a inesperada, mesmo pelos sindicatos, manifestação de 8 de Março, o ambiente ficou assustador e, potencialmente incontrolável, quer para o ME, quer para a Frente Sindical. Ficou assim determinada a necessidade de acordo. Aparece então este eufemismo do entendimento, assegurando o ME que tem avaliação de professores enquanto a Frente Sindical assegura que a avaliação pretendida pelo ME não passou e, pensam, não passará. Veremos. Para já é coisa nenhuma, o que também não se estranha.
(José Morgado)
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Se o propósito da existência de professores é ensinar aos nossos jovens aquilo que se convencionou necessário que eles saibam, por que motivo a avaliação dos professores não incide unicamente nos resultados obtidos pelos respectivos alunos, resultados esses demonstrados em provas nacionais concebidas por agentes independentes?
Previsivelmente, os resultados de diferentes escolas e ambientes de ensino, poderão ter que ser afectados com coeficientes de correcção tendo em conta as médias e os desvios padrão, ferramentas que um profissional das estatísticas sabe aplicar.
Eu conheço métodos de avaliação implementados em grandes empresas, como é o caso da EDP, onde fui avaliado e avaliador, e não os recomendo a ninguém. Não têm outro objectivo senão sancionar escolhas prévias, destinadas à promoções de amigos ou à contenção da massa salarial. Quando se depara com critérios do género “competência comportamental” parece que está tudo dito. Para mais, processos destes nas mãos de socialistas são um manifesto perigo. Os professores que se cuidem.