ABRUPTO |
![]() semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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14.3.08
![]() COISAS DA SÁBADO: OS PÓZINHOS DE PERLIMPIMPIM ![]() As ideias de que a maioria do país tem alguma espécie de policiamento e de que as forças de segurança oferecem alguma segurança, só as podem ter quem viva nas cidades, onde mal ou bem, mal quase sempre, há polícia nalguns sítios. A esmagadora maioria do interior do país rural não tem qualquer policiamento, nem de perto nem de longe. A GNR, acantonada em meia dúzia de postos, está como o próprio nome indica, acantonada. No momento em que o governo se prepara para fechar 110 postos da GNR convém pensar duas vezes, porque se não chega a GNR a todo o lado, a droga e o pequeno crime chegam e chegam cada vez mais. Esta história verdadeira passou-se numa aldeia há menos de uma semana, a poucas dezenas de quilómetros de Lisboa, não na raia profunda. É uma história sobre as funções que só cabem ao estado e que este escandalosamente não cumpre. Duas bicicletas de miúdos com 10, 12 anos, deixadas na rua à porta de uma pequena biblioteca onde eles estavam, foram roubadas. É dia e é uma aldeia. Eles aperceberam-se muito pouco tempo depois, quinze minutos, no máximo meia hora e vão falar com a responsável da biblioteca a chorar. Esta contacta a polícia, neste caso a GNR. Hesitou, porque de há um ano para cá, todos os dias há nessa aldeia roubos, quase sempre pequenos roubos, há uma semana ovelhas, na anterior uma despensa de uma quinta, objectos diversos, bicicletas, dinheiro aos velhos, computadores, etc, etc. Hesitou porque de todas as vezes que foram feitas queixas nunca houve qualquer sequência, nem sequer a polícia veio interrogar quem fez a queixa. Zero, nada. As pessoas duvidam que valha a pena o trabalho e o risco. Mas fez. Pouco tempo depois chega um carro da GNR. Os seus ocupantes assumem de imediato um tom agressivo com quem fez a queixa. Quem fez a queixa, não o podia fazer. Quem a podia fazer eram os pais das crianças, que choravam ao lado pela perda das bicicletas. "Novas" diziam um deles. Se se chamarem os pais podem fazer a queixa ali mesmo diante dos agentes da autoridade? Não, têm que ir ao posto presencialmente. O posto é a 15 quilómetros de distância e nem toda a gente tem carro e não há transportes públicos a não ser segunda-feira. Estamos num sábado. E não se pode fazer a queixa por e-mail, por telefone e depois autenticá-la? As pessoas pensavam que, a fazer-se alguma coisa pela GNR, ela devia ser urgente, dado que o roubo fora há muito pouco tempo. E acreditavam no Plano Tecnológico. Não, não podem, tem que ser presencial e parece que se for em e-mail ainda demora mais, o e-mail vai para o tribunal e só daqui a dias é que alguém faz alguma coisa. Não é tarde demais? Vocês não podem fazer alguma coisa, dar uma volta à aldeia? As respostas dos guardas sobem ainda mais de tom e agressividade: "Sabem quem roubou? Se não sabem, não podemos fazer nada! Acham que temos uns pózinhos de Perlimpimpim para descobrir quem rouba? " E pedem de modo intimidatório a identificação a quem fez a queixa mas não podia fazer a queixa. Todo o comportamento foi sempre de hostilidade para as vítimas e de indiferença para com o crime. E depois foram-se embora. Deixaram atrás impotência e revolta. Certamente esta semana haverá mais roubos e carros de grande cilindrada estacionarão nos sítios do costume para o tráfico habitual. Nesta aldeia, na do lado, na de cima, é a mesma rotina. É exactamente por tudo isto que as estatísticas do crime são matéria de ficção. * 1. O MAI decidiu positivamente não encerrar postos da GNR ou esquadras da PSP; (url)
© José Pacheco Pereira
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