ABRUPTO

13.3.08


BIBLIOFILIA: TRADUÇÕES CORAJOSAS, EDIÇÕES CORAJOSAS



Dois portentos da tradução, da erudição, da edição. Livros muito difíceis, que não têm precedente na sua integralidade ou em português moderno (havia umas traduções parciais em prosa do Ariosto), que têm um infinito trabalho atrás deles. A Margarida Periquito devemos o Orlando Furioso e a Pedro Alves e Carlos Morujão, as Logische Untersuchungen. Não são para ler de fio a pavio, a não ser pelos especialistas, mas são maravilhas do pensar e da criação em cada página.

Husserl era onde acabava a filosofia quando eu era estudante e isso devia-se ao jesuíta Júlio Fragata e ao seu trabalho, que fizera saltar a filosofia ensinada de Descartes, Leibniz, Espinosa, para o início do século XX, apenas porque não se podia iludir na Faculdade de Letras do Porto o que ele tinha escrito e traduzido e tinha lá discípulos. Mas era mesmo saltar, porque se passava por cima de Hegel, à porta do qual acabava cronologicamente o programa de filosofia. Depois havia uns fragmentos de Teilhard de Chardin e de Merleau-Ponty, porque eram autores sobre os quais os professores da Faculdade tinham teses. Não era um programa coerente e fugia da contemporaneidade por razões óbvias. É bom voltar àquela coisa que só os alemães fazem, depois de Tomás de Aquino, até porque a língua ajuda, pensar milímetro a milímetro, palavra a palavra, com um fôlego de pensamento e rigor sem paralelo que faz obras como a Crítica da Razão Pura, a Fenomenologia de Espírito, estas Investigações Lógicas e o Ser e o Tempo, tirarem a respiração ao comum dos mortais.

E depois há o Furioso e aquele mundo de cavaleiros, homens e mulheres com uma nobreza muito especial, que devia vir dos primórdios, de batalhas, de amores, lealdades e traições que, junto com as gravuras de Doré, fazem um pleno de som e de fúria sem paralelo. Não admira que este mesmo mundo fizesse o Quixote ficar maluco. Com estas páginas também me candidato.

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