ABRUPTO

11.2.08


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OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 11 de Fevereiro de 2008


(No Prós e Contras) No meio da discussão, Hespanha teve um pequeno lapso de memória e esqueceu-se da autoria dos Buddenbrooks de Thomas Mann, que citou. Ficou em silêncio e faltou-lhe o nome, como nos acontece a todos, e uma sala inteira, com alguma da nossa mais alta elite jurídica, pura e simplesmente não sabia completar-lhe a frase com o nome do autor. Foi já na frase seguinte, após aqueles segundos de incomodado silêncio, que Hespanha se lembrou e continuou. Eu ainda me espanto com isto, mas deve ser defeito e certamente um sinal da minha arrogância...

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Não assisti, mas escrevo-lhe para lhe comunicar que também compartilho o seu espanto sobre o silêncio de uma sala preenchida com a nossa mais prestigiada elite jurídica quando se levanta uma questão a respeito da autoria dos Buddenbrooks. Simpaticamente, sempre é possível especular que parte daquele silêncio fosse gerado por causas diferentes à da ignorância: desde a inércia de quem, sabendo, não estivesse para se esforçar a pensar, a quem não tivesse a certeza, até quem não se dispusesse, por antipatia, a auxiliar António Hespanha, que sofrera o lapso…

Tenho dificuldade em encontrar explicações tão benignas, e o meu espanto foi o mesmo, quando no seu caso e num outro programa de televisão(da SIC), confunde um regimento com uma companhia de engenharia – e ali também ninguém o corrigiu… – seguido de uma argumentação – a “robustez” da composição da UNIFIL – em que se percebe que o seu desconhecimento sobre a distinção na engenharia militar entre o que é a engenharia de combate e a de construção é absoluta… Silêncio, verifiquei-o depois na sua (não) resposta ao comentário que então lhe enderecei a respeito dessa sua ignorância…

Não é apenas uma questão de arrogância sua, é também a de lhe relembrar que também tem os seus momentos de lixo: eles não se restringem aos "95% da blogosfera" (N.O.S.) que referiu numa citação hoje famosa… E quem quer passar por tão exigente com os outros, também tem que se dispor a sofrer o mesmo tratamento, consigo próprio…

(A.Teixeira)
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Era mesmo o que fazia falta: um debate absolutamente confuso, inútil, impotente e às vezes patético no Prós e Contras sobre "justiça".

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Será que ouvi bem o PGR dizer, a propósito do "Apito Dourado", que a mera existência do processo, seja qual for o resultado, é já "positiva" e já "teve resultados"? Isto é completamente absurdo sob todos os pontos de vista e péssimo para o ambiente que já se vive em Portugal. Primeiro, porque podemos passar a ter processos desencadeados com intenção exemplar, funcionando para culpabilizar alguém junto da opinião pública, mesmo sem decisão judicial de culpa, apenas porque o Ministério Público tem uma agenda punitiva contra A ou contra B. Depois, porque é absurdo pensar que, se processos sobre processos chegam a tribunal e ficam pelo caminho, ou porque as pessoas foram injustamente acusadas, ou porque a instrução foi deficiente e negligente; que isso possa contribuir para qualquer outra coisa que não seja o aumento da sensação de impunidade e de ineficácia da justiça. O que parece é que o PGR não tem confiança na solidez da instrução do "Apito Dourado" ou não acredita na justiça...

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Ainda não ouvi o sonoro "prove!", que imediatamente foi dito a Marinho Pinto, a propósito das acusações de António Costa contra o Público.

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Nós deveríamos ser o país com melhor informação sobre Timor, depois da Austrália. Temos lá jornalistas dos órgãos de comunicação do estado dentro de uma ideia de "serviço público". No entanto, acordamos sempre com novidades cujo contexto desconhecemos, desenquadradas de tudo, e foi preciso que Mário Alkatiri fornecesse uma interpretação política do que estava a acontecer para termos enfim um vislumbre dos eventos e do seu contexto.

Depois, mais uma vez, os jornais em linha e os sítios de notícias que deveriam acompanhar o fluxo de notícias em tempo real, como era de noite não deviam ter ninguém (o mais rápido foi o Expresso), e atrasaram-se de uma forma injustificada. Hoje quando há notícias deste tipo, de surpresa, as pessoas vão à televisão, à CNN se a tiverem e à Internet. A lentidão dos nossos recursos noticiosos em linha, com a Lusa a fechar os comunicados a quem não paga assinatura, não se justifica.

ADENDA - Para se ficar informado: ver e ouvir as intervenções do Primeiro-ministro da Austrália aqui.

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Há um pormenor perfeitamente descabido na análise jornalística do duplo
homicídio que hoje se intentou em Timor-Leste: pelo que dizem os nossos
repórteres, fazendo um eco ovino e acrítico da versão oficial veiculada por
Xanana e pelo MNE timorense, Alfredo Reinado liderou uma «tentativa de golpe
de Estado».
Paremos um segundo para pensar: alguém acredita que Reinado, militar
experiente, podia sequer supor que lhe era possível, à testa de uns quantos
desertores, derrotar a guarnição australiana destacada em Timor e ascender
pela força à chefia do Estado (e é isto, caso os nossos jornalistas não
saibam, que um golpe de Estado é)? O Le Figaro e o New York Times,
comedida e inteligentemente, tratam este assunto como um atentado,
articulado decerto, mas em todo o caso não mais do que isso. Por cá, não: a
ânsia de fazer «claque» ao grande resistente Xanana pura e simplesmente
impede os nossos jornalistas de deixar por um momento a vocação natural para
a propaganda e abordar de forma séria e reflectida os factos com que se
deparam.

(João Vilela Moreira)

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Há pouco, em consulta aos sites tsf.pt e publico.pt observei que as primeiras notícias sobre os atentados em Timor surgiram cerca das 23:30 de ontem. Ora a SIC Notícias, principal canal de notícias do país, durante pelo menos meia hora (o tempo em que me apercebi), entre as 0:10 e as 0:40, manteve uma amena cavaqueira entre o seu pivot e o comentador desportivo Rui Santos. Assim, enquanto a RTPN entrevistava Mari Alkatari e fazia reportagens em directo, Rui Santos debitava pérolas de sabedoria sobre o estado do balneário do Sporting e dissertava sobre o conteúdo das declarações de Paulo Bento durante a semana. Nestas declarações, Paulo Bento, treinador voluntarioso, mas jovem e sem grande experiência, afirmava revoltado (no seu registo oral emotivo com muitas pausas) que existem "bufos" no Sporting, dando sinais da sua impotência para dominar um balneário jovem, sem grande cultura de colectivo. O irónico no meio disto é que Paulo Bento poderá ser uma metáfora daquilo que aconteceu em Timor Leste.

Tiago Lopes

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A edição on-line do Sol publicou a notícia do atentado contra Ramos Horta antes do Expresso, momentos após as 23h de domingo, uns 10 minutos após oprimeiro take da Associated Press e imediatamente após o alerta da CNN. O Expresso publicou a primeira notícia sobre o assunto às 23h42. De resto, partilho o espanto do José e dos seus leitores perante a lenta reacção da generalidade dos meios de comunicação portugueses aos acontecimentos daquela noite.

(Pedro Guerreiro)

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