COISAS DA SÁBADO:A ENCOMENDA QUE ME FEZ BELMIRO DE AZEVEDO
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Escrevo estas linhas [sobre as aventuras de Sócrates projectista] porque Belmiro de Azevedo me pediu, ou, Belmiro de Azevedo pediu a José Manuel Fernandes que me pediu para escrever estas linhas. Como a SONAE perdeu a OPA sobre a PT, o desejo de vingança do “grupo” é enorme e é para isso que existe o Público e o Cerejo, o “novo pide”, para vilipendiar o pobre do proto-engenheiro Sócrates que, há vinte anos, fazia uns projectos para uns amigos que, por coincidência, não os podiam assinar, graciosamente é claro, sem qualquer da burocracia que faria as Finanças hoje grelhar um cidadão nas sinistras suspeitas de fugir ao fisco. Ou pior, como escrevo no Público, escrevo estas linhas para agradar a Belmiro de Azevedo ou a José Manuel Fernandes que não as pediram, mas vão ficar agradados por eu as ter escrito e alguma recompensa me hão-de dar. Ou pior ainda, escrevo estas linhas para que o senhor Primeiro-ministro e o seu gabinete saibam que a “a mim ninguém me cala” e por isso, como fizeram com Manuel Alegre, me dêem a cabeça de um ministro numa bandeja para me amansar. Eu digo já qual é o ministro... Ou pior do pior, mãe de todos os piores, escrevo estas linhas para tramar a tríade Menezes – Lopes – Ribau que a última coisa que querem é que Cerejo olhe para eles com o mesmo olhar com que olha para as casas elegantes que enxameiam a Guarda com assinatura de José Sócrates. Ou pior ainda, o absoluto pior, o pior que encerra o puro mal, porque no meu ignoto canto, mergulhado na raiva pura, no monstro verde, na bílis do mais total ressentimento, invejo o sucesso brilhante do engenheiro Sócrates como desenhador e projectista, um homem que faz, que tem obra feita no distrito da Guarda, enquanto eu não durmo à noite porque apenas pertenço àquela confraria inútil que só escreve livros e artigos, mergulhada na sua própria peçonha.
Deve haver coisas ainda muito piores, mas a minha imaginação não chega lá.
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1. Há alguma diferença entre projectista, desenhador e Eng. Técnico? Qual o papel de cada um na elaboração de um projecto de ampliação de uma casa(maioria dos casos) ou da construção de uma nova moradia?
2. A estética de um projecto de ampliação (ou mesma de uma construção nova) é da responsabilidade do Engenheiro Técnico, do projectista, do desenhador ou do cliente?
3. Num projecto de ampliação (ou mesmo de uma construção nova) existe alguma ilegalidade em um Engenheiro Técnico assinar um projecto feito em grande parte por um desenhador ou projectista (porque fica mais barato ao cliente), assumindo a responsabilidade por ele?
4. Nos anos 80, no distrito da Guarda quantos Engenheiros Técnicos havia e quantos destes trabalhavam nas Câmaras Municipais? Consegue indicar algum que nunca tenha assinado projectos de favor (com o fim de não cometer nenhuma ilegalidade)?
(Joao Filipe Marques Narciso)
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“Deve haver coisas muitos piores (…)” diz o JPP
Creia que há, como por exemplo ser arquitecto e saber, querer e poder defender a profissão.
Sabe porque não assinei ‘arquitecto’ e sim ‘projectista de arquitectura’ no meu comentário anterior? Não foi, apenas, por não estar em causa abordar o tema ‘A arquitectura aos arquitectos’. Nem pelo receio de levantar a questão de também existirem ‘brincadeiras’, como as fotografadas no Público, assinadas por estes profissionais.
Foi, antes, para não ter que falar do 73/73 e da má vontade e má fé de quem não se interessa em revogá-lo. Porque, desde 73, no espírito redutor da classe governamental, as classes profissionais que têm como objectivo projectar e construir, parecem servir apenas uma amálgama de interesses obscuros.
Efectivamente, continua a ser indecifrável para muitos, incluindo governantes, o significado do termo ‘qualidade’ de um objecto arquitectónico, de um conjunto urbanizado, ou de um plano. Chega a parecer impossível debater este tema, sem que surja, inevitavelmente, a habitual proliferação de equívocos sobre a rivalidade arquitectos-engenheiros.
Na conclusão do seu artigo na Sábado, afirma que teriam existido duas linhas para tratar imediatamente o assunto na comunicação social.
Deixando a segunda sugestão para psis - a que denunciaria o jogo de negação/perseguição do PM - interesso-me principalmente pela sua primeira sugestão.
Ou seja, a comunicação social poderia, e poderá ainda, desenvolver “a matéria da notícia (as assinaturas, os projectos de casas, as circunstâncias, a exclusividade)”.
Todos os portugueses beneficiariam com o desvendar deste questão tão esotérica, que parece envolver conceitos de Ética e Estética.
Coisas ainda muito piores e com mais peçonha, que nos fazem gregos.
(MJE)
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Claro que o problema das encomendas não diz respeito a si nem a jornalistas que não possam ser coagidos pela necessidade económica. O problema porém é que em média, aliás para dizer a verdade praticamente todos os jornalistas sentem hoje que a sua posição social, a sua progressão na carreira se encontrará prejudicada se saírem dos "modelos" se ousarem investigar de forma séria se expuserem ideias diferentes. Aliás isso também se aplica aos politicos, quanto mais não seja basta ver o seu caso. Não que concorde sempre consigo mas pelo menos entendo que é capaz de reflectir e de propôr ideais e não vê isso como um "palavrão".
Na verdade em meu entender o problema do sistema capitalista não é o mercado livre. é o facto dos dois poderes reguladores - o estado e a imprensa estarem neste momento factualmente dependentes do poder económico. Isso arruina os alicerces da nossa sociedade e coloca os administradores dos grandes grupos económicos no efectivo governo da nação.
Por isso terá que me desculpar mas na verdade acho que a noticia do Publico foi plantada por alguém de forma incontestavelmente habilidosa. Resta saber o que a Sonae quer do governo, mas em breve - parece-me - se saberá ...