ABRUPTO

2.1.08


A "TEMPERATURA DO PRESENTE"



recolhida todos os dias pelos leitores do Abrupto.

Olhares. Coisas. Gestos. Restos. Movimentos. Paragens. O olhar que fixou numa noite de trabalho, que é de festa para muitos, duas raparigas numa estação de serviço, um barco que sai para a pesca, a primeira luz do Sol naquela rua pela manhã, as nuvens sobre o rio, uma nuvem longínqua, a primeira neve, a chuva, a passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro, com a sua haste partida cada vez mais próxima do chão, pessoas, que entram, que chegam, que partem, que estão mas não estão, os barcos numa doca, os esteiros, o trânsito, um nevoeiro que se levanta, a Lua, a escuridão da noite, o brilho das lâmpadas no crepúsculo, uma barragem numa paisagem de cimento e pedra, tão fria e sinistra como a água negra em baixo, trivialidades, costumes, o Agnus Dei, caminhos, caminhos que não levam a nenhuma parte. Coisas que ninguém está a ver, que nenhuma atenção suscitam, mas que ficam por cá, fixadas no seu próprio tempo, no seu instante de perpetuidade, como se no "artefacto" da fotografia se reduzisse um tempo a uma superfície, uma passagem do tempo para o espaço. Momentos, clichés, excentricidades, boas técnicas, más imaginações, más fotos, boas fotos, isso pouco importa. Esta é a parte mais filosófica do Abrupto. Com ironia, sem ironia.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]