ABRUPTO

15.1.08


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 15 de Janeiro de 2008


Depois de perdida a "sua" localização, os defensores mais qualificados da Ota estão agora a fazer, tarde e a más horas, a discussão que sempre faltou sobre o aeroporto - a discussão política. O problema do défice de discussão sobre o novo aeroporto nunca foi técnico, foi sempre político. Muita coisa que deveria ser discutida antes foi considerada fechada e apenas prejudicando a "decisão" rápida do "governo das decisões expeditas". Os defensores da Ota, certos das suas vantagens, também achavam que o que se deveria fazer era "andar para a frente". Pagam hoje o preço de ver a mesma linguagem de meia bola e força ser usada para avançar a toda a velocidade com Alcochete.

Mas o mais interessante sobre o aeroporto, sua necessidade e tipo, sua localização e impacto, o seu papel na economia nacional, sobre os "interesses" presentes e ausentes, sobre que Portugal fará o aeroporto e sobre que aeroporto precisa Portugal, sobre o efeito da "cidade aeroportuária" como chave de desenvolvimento para todo o país ou apenas para a concentração Lisboa-Setúbal, sobre os riscos de fazer mais um "elefante branco" e destruir o pouco que resta de Portugal por estragar, tudo isto está a ser dito por pessoas como Henrique Neto e José Reis (no Prós e Contras). Henrique Neto fez aliás a mais demolidora intervenção contra o "bloco central de interesses" e contra o governo que ouvi nos últimos tempos. É tão rara que até parecia chinês. Não é preciso concordar com eles sobre Ota versus Alcochete, mas a discussão que estão a suscitar é a que sempre fez falta.

*

Desculpe a franqueza directa, mas não é bem verdade que só agora os defensores da Ota estejam a fazer a 'discussão que sempre faltou'.

Especialmente quanto ao segundo parágrafo da sua nota 'Vendo ouvindo - átomos e bits' de 15 de Janeiro de 2008, a verdade é que o Movimento Pró-Ota sempre colocou a tónica nos interesses nacionais da localização do novo aeroporto na Ota e não na margem sul do Tejo. Entre outros argumentos (e certamente por outras palavras), sempre (ao longo de dez anos) se colocou a tónica na vida económica, social e 'turística' da margem norte do Tejo e, principalmente, na faixa litoral. Acontece que esses eram argumentos pouco mediáticos e as posições do Movimento Pró-Ota sempre tiveram pouco eco na comunicação social.

Este argumento, conjugado com a saturação da Portela e os problemas de segurança do aeroporto de Lisboa, sempre constituiu a base do argumentário do Movimento. Sempre se disse também que, perante as sucessivas 'decisões' dos sucessivos governos, era tempo de avançar.

Outra coisa, admito e concordo, eram os argumentos de alguns 'defensores' da Ota, os quais, talvez devido à sua proximidade mais próxima (permita a expressão), não resistiam a puxar pelas 'razões' mais paroquiais. Como aliás se viu quando correram pressurosos para a beira de José Sócrates a pedir 'compensações'!

A verdade é que nunca como ontem (e bastante tarde no programa da RTP1) vozes 'oficiais' assumiram dizer que o novo aeroporto era uma alavanca para puxar por uma região deprimida, trocando, aliás, a política de 'desenvolvimento vertical e litoral' preconizada pelo secretário de Estado João Ferrão por uma outra 'horizontal'. José Reis resumiu muito bem a coisa: estamos perante um aeroporto para servir uma região e não para servir o País.

Permita-me também que lembre outro facto, igualmente com pouco eco na comunicação social: não é de agora o discurso de Henrique Neto contra o 'bloco central de interesses' e contra os interesses obscuros. Pode não ser a melhor voz para o fazer, mas é facto que tem sido quase a única. Como é também quase a única a denunciar algumas opções relativamente ao TGV, designadamente no que se refere ao traçado de ligação a Espanha (ainda ontem o voltou a fazer com meridiana clareza).

(Francisco Figueiredo)

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