ABRUPTO

10.1.08


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 10 de Janeiro de 2008


É de facto muito difícil ter um ambiente de rigor, de controlo e responsabilização da coisa pública quando nem sequer a comunicação social se apercebe até que ponto a força do establishment se manifesta em tão triviais coisas como seja a de escolher ouvir o próprio governo, a solo, num período crítico de uma decisão que teve o processo que esta teve, as consequências que esta tem, a começar pelos seus enormes custos. Permitir-lhe uma fácil operação de controle dos danos, sem controvérsia, sem contraditório.

Esta é que é a grande diferença entre televisões como a RTP e as suas congéneres estrangeiras, mesmo as de "serviço público", é a de respirar no poder, dentro do poder, e nessa ecologia nem sequer lhe passar pela cabeça que o tratamento editorial de uma decisão governamental como a de hoje não pode ser feita essencialmente com a voz do poder e dos interessados governamentais, sem distanciação editorial. Não lhe passa pela cabeça que era vital, como tratamento jornalístico, editorial, ouvir os críticos, ouvir os que tinham razão contra a teimosia do governo, confrontar o ministro com algo mais do que brandas palavras. Não são as declarações formais da oposição que fazem esse papel. Ninguém por exemplo pergunta aos responsáveis do governo quanto custou esta teimosia ao país, quanto vai custar o programa de reparações para a Ota, um só dos muitos custos que este governo nos vai fazer pagar por pura negligência. Ninguém se dá ao trabalho de ir aos arquivos buscar mais que o óbvio ( o jamais) quando qualquer arquivo de televisão, rádio e jornais está cheio de afirmações muito mais comprometedoras do Primeiro-ministro e do Ministro das Obras Públicas, que só por preguiça - porque se sabia o suficiente para ter as peças preparadas - ou pior por favorecimento político.

Quando andamos para trás, também é por isto.

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Mais uma história mal contada, obscura, cheia de coisas por esclarecer, como se está a tornar um hábito neste governo - a do aeroporto. É verdade que os "governos e os políticos mentem", mas quando a política se torna uma gestão da mentira, apresentada como infalibilidade e arrogância, o problema torna-se mais grave. Não é verdade que o governo estivesse sempre aberto a estudar todas as possibilidades de localização do aeroporto. É falso, o governo já tinha decidido pela Ota, e o governo nem sequer se deu ao trabalho de estudar a sério as variantes Portela+1. Não é verdade que tenha sido por sua livre vontade que estudou a hipótese de Alcochete. É falso, foi obrigado pelo Presidente e pela opinião pública, num processo que está de todo por esclarecer à volta do célebre estudo da CIP. Não é verdade que o Ministro e o Primeiro-ministro não tivessem fechado a porta liminarmente a qualquer dúvida, reflexão, crítica. É falso, fecharam-na com fragor em dezenas de declarações terminantes, definitivas, tão agressivas nas suas certezas que até faziam doer os ouvidos. Durante mais de um ano deixaram atrás de si declarações, discursos, resoluções, sessões públicas, power-points, filmes de computador com os aviõezinhos a subir e a descer e milhões de euros em estudos que vão para o lixo junto com a NAER, agora que tem que se começar tudo de novo.

De facto, isto estava a precisar de uma grande volta, mas não será certamente com declarações patéticas como a do PSD de que o governo mudou de posição a “reboque de posições tomadas apropriadamente pelo PSD em Outubro, quanto ao referendo, e em relação à OTA, nas últimas semanas”, uma declaração absurda na sua auto-congratulação. A ideia de um governo assustado pelas declarações de Luís Filipe Menezes, que apoiou a Ota quando Marques Mendes a atacava (daí o "nas últimas semanas”) e só quando se suspeitou que o estudos iriam apontar para Alcochete é que mudou mais uma vez de posição (e para uma variante de Alcochete+Portela que nem sequer é a que tomou o governo), não ilude ninguém, presumo que nem sequer o próprio, e é mais uma cavadela na cova funda da credibilidade do PSD.

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Por motivos facilmente compreensíveis, a página da NAER está, neste momento, inacessível. Esperemos que, quando corrigirem "o que a gente sabe", aproveitem para acertar a ortografia.



(Anexo: imagem de arquivo)

(C. Medina Ribeiro)

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Pode ver que na página principal da NAER já é publicitada a divulgação do estudo do LNEC. Mas se for à área de estudos é decepcionante verificar que no fundo da lista está texto com o nome do ficheiro mas sem qualquer ligação ao ficheiro que contém o estudo. Alguém falou em choque tecnológico?

(Miguel Borges)

(url)

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