ABRUPTO

18.10.07


UMA VIDA

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Este documento faz parte do espólio de Francisco Ferreira, conhecido como "Chico da CUF", que me foi oferecido em várias fases, primeiro pelo próprio, depois da sua morte, pela sua viúva, entretanto também falecida e, finalmente, pela sua família. É o mais antigo dos seus documentos pessoais. Não é um documento comum: é a sua Caderneta Profissional da CUF, datada de 1925, que regista os dados pessoais do "marcador de sacos", originário de Alcácer do Sal e que habitava no Bairro Operário da CUF no Barreiro.

O que torna especial este documento é que ele tenha sobrevivido. Francisco Ferreira foi perseguido, viveu clandestino, fugiu da PIDE para Espanha, participou na guerra civil espanhola, foi dos últimos a fugir de Espanha num barco para a URSS, trabalhou numa das fábricas que foram desmanteladas e levadas para o interior devido ao avanço das tropas nazis, trabalhou depois na Rádio Moscovo. Viveu sob Staline, Krutchev e Brejnev. Desiludido pela experiência do comunismo soviético, que conhecia como ninguém, não só como quadro comunista, mas como operário, conseguiu um visto na Embaixada portuguesa de Cuba e regressou ao seu país, quase quarenta anos depois. Em todas estas andanças, algumas das quais em situação de grande risco pessoal e não podendo trazer muito mais do que a roupa sobre o corpo, Francisco Ferreira guardou a sua caderneta de operário da CUF. Ele e a sua geração tinham honra em ser operários e este papel gasto provava essa condição. Quando foi emitido, Francisco Ferreira tinha 14 anos.

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© José Pacheco Pereira
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