ABRUPTO

12.10.07


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: VIDAS ANTIGAS

Carl J. Richard, Twelve Greeks and Romans Who Changed the World, Rowman and Littlefield, 2003

Este livro de doze biografias clássicas devia ser traduzido. São biografias simples, corridas e a sua leitura sequencial, de Homero a S. Agostinho, permite construir uma história do mundo antigo na sua complexidade e riqueza. Na “parte em que mudaram o mundo” está também presente o “tamanho” desses homens, em particular nas biografias que me parecem mais conseguidas, todas elas sobre momentos de viragem em que a figura do biografado assume uma dimensão ética. É o caso das biografias que retratam figuras romanas do final da república e do início do império, em que homens de fortes convicções actuam por fidelidade ética com risco de vida que habitualmente perdem. O autor continua aqui a velha tradição dos fundadores dos EUA de se reverem na república romana e detestarem o tirano César. É o caso da biografia de Cipião, o Africano, ou na de Cícero, uma das mais interessantes, ou, mais tarde, na de Paulo de Tarso para explicar o impacto da atitude do “amor” cristão nos costumes cruéis do império.

Uma das razões pelas quais durante muitos séculos a educação incluía a leitura de biografias clássicas, por exemplo as feitas por Plutarco, é que nelas se encontravam “vidas exemplares” e a sua leitura tinha um sentido de educação ética. Hoje, as biografias estão tão cheias de psicologia e psicanálise, que os tormentos da vida não servem para educar, mas sim para satisfazer os estados de alma de uma multidão romântica que, vivendo vidas miúdas, quer escapar ao quotidiano pelo sentimento. Ontem, as leituras separavam-se por género, os homens concentravam-se nas biografias guerreiras, e as senhoras e meninas, nas sentimentais. Hoje, homens e mulheres têm leituras unissexo: vidas urbanas, namoros breves e fugazes, marcas de vinho, herdades no Alentejo, pores-do-sol numa praia mexicana de mão dada.

Cícero? Isso é o nome dum cão? Ah! Já sei, é um dos três porquinhos, Prático, Heitor e Cícero...

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© José Pacheco Pereira
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