ABRUPTO

15.8.07


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: PARA QUEM QUEIRA SABER COMO É A GUERRA BIOLÓGICA

John Kelly, The Great Mortality : An Intimate History of the Black Death, the Most Devastating Plague of All Time, Nova Iorque, Harper Collins, 2006.

Não tenhamos muitas ilusões: a guerra biológica, que, com grande probabilidade, teremos de afrontar neste século, será muito parecida com a terrível pestilência que no século XIV veio de Caffa, da Rota da Seda, para a Europa em meia dúzia de barcos genoveses. Onde chegavam, as pessoas começavam a tombar mortas, e os ratos e as pulgas que os infectavam estendiam-se pelo interior levando a doença até ao coração das terras europeias a velocidades que atingiam quatro quilómetros por dia. Onde chegava a peste, entre 50% e 70% dos infectados morriam, num curto intervalo de tempo, criando uma enorme perturbação social. Em muitos sítios, a ordem desapareceu e cada um ficou entregue a si prório e às piores violências imagináveis. Noutros, um módico de ordem resistiu, com as municipalidades (em várias cidades italianas, por exemplo) a funcionar para assegurar o enterro dos mortos e as frágeis medidas de salubridade pública que eram compatíveis com a medicina galénica que então se praticava. Mas, toda a história da Peste Negra mostra algo de muito importante para a percepção sobre os ataques biológicos (ou mesmo sobre pandemias possíveis como a "gripe das aves"), o enorme potencial de disrupção social das doenças contagiosas, do contágio fácil, humano a humano.

O livro de John Kelly sintetiza muitos dos relatos conhecidos sobre a Peste, e são mesmo muitos, e descreve as condições que favoreceram a rápida expansão da doença, em particular o enorme recuo do mundo medieval em relação ao mundo antigo na valorização da limpeza. Os romanos investiam no saneamento básico, as cidades, vilas e aldeias medievais viviam afogadas em lixo. É, às vezes, um pouco cansativo no detalhe anedótico, mas transmite o sentimento de opressão psicológica, de impotência e de "fim do mundo", da Peste.

Prevenidos já estamos.


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© José Pacheco Pereira
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