ABRUPTO

27.8.07


NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
GÉNIO, "INSACIÁVEL CURIOSIDADE", PESSIMISMO (3)


Norbert Wiener passava por louco no MIT, egoísta, mau colega, rezingão, interrompendo tudo e todos, nadando nu de charuto na boca, obcecado por mulheres com furos nas orelhas, deixando atrás de si confusão, perplexidade e... ideias. Entre essas ideias está uma consciência imediata das repercussões mais vastas das suas teorias na sociedade, o modo como elas moldariam ou poderiam moldar o futuro. Diferentemente de muitos cientistas que contribuíram para o Projecto Manhattan sem perceber que estavam a ajudar a construir uma arma de destruição sem paralelo, Wiener sabia exactamente quais as implicações que a cibernética teria a prazo. Desde o final dos anos quarenta que percebeu não só o que de positivo traria uma ciência da comunicação, do comando e controlo de máquinas automatizadas (um dos seus últimos projectos foi a implantação de membros mecânicos em amputados, directamente controlados pelo sistema nervoso), como as enormes possibilidades de desumanização de um mundo dominado por máquinas vistas como gadgets fascinantes. Do desemprego gerado pela robotização à guerra automatizada, previu muitas das coisas que hoje sabemos serem riscos reais.

Wiener considerava que existia uma contradição entre o tempo lento do humano e a irracionalidade inscrita na vida, com a tendência tecnocrática para adorar a rapidez e perfeição lógica das máquinas como protótipo do "pensamento perfeito". Mais: ele teme que as máquinas possam aprender e escapar ao controlo humano, um tema recorrente na ficção científica de que foi cultor, em que num mundo automatizado com máquinas inteligentes, se destruísse a humanidade. O filme War Games, em que um hacker inicia uma guerra termonuclear como se fosse um jogo, parece tirado a papel químico das preocupações de Wiener e das críticas que fazia a colegas seus como Von Neumann, rejeitando que a "teoria dos jogos" pudesse servir para simular processos humanos complexos. Wiener insistiu sempre que a "informação" era "conteúdo" e não apenas a sequência digital que a suporta, insistindo por exemplo que o fluxo de informação nervosa nos animais era analógico e não digital. A tensão entre o seu trabalho e o de outros cientistas que se dedicaram à "teoria da informação" como Shannon, ainda hoje são vitais como modos diferenciados não só de ver a cibernética, mas a mecânica psicológica e social.

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© José Pacheco Pereira
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