ABRUPTO

27.7.07


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OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 27 de Julho de 2007


Será que estou a ver bem, uma jornalista da RTP a entrevistar o embaixador do Irão em Lisboa, com véu, vestida até à nuca de escuro e com luvas pretas? Em Lisboa? Uma coisa é vestir-se de forma recatada dadas as sensibilidades, outra é vestir como uma iraniana em Lisboa. Se no tempo dos taliban também houvesse uma embaixada do Afeganistão em Lisboa, iria a senhora jornalista de burka? O problema é que já não nos respeitamos a nós próprios.
Parece impossivel que ja’ chegamos a este ponto. Talvez alguem pudesse fazer um historial de como se chegou a este estado de coisas. Sera’ que o polticamente correcto/ odio a Bush e’ mais forte que direitos basicos das mulheres? Uma coisa e’ respeitar a casa dos outros, outra bem diferente e’ nao se ter respeito por si proprio(a). So’ gostava de saber onde esta’ o BE e as outras forcas que se dizem defensoras dos direitos das mulheres? Sera’ que Francisco Louça vai condenar esta entrevista? Sera’ que o PCP o vai fazer?

Eu sinceramente nao me lembro de alguma vez ter visto uma entrevista com o embaixador dos EUA, onde a entrevistadora estava vestida com uma burka. Mas segundo se diz por essa Europa fora, o grande inimigo da paz e da liberdade e’ mesmo a America de George Bush. Esta entrevista demonstra bem isso.

(Carlos Carvalho)

Partilho a sua indignação e a expressa pelo leitor Carlos Carvalho relativamente ao modo como a jornalista Márcia Rodrigues se vestiu para entrevistar o embaixador do Irão em Lisboa. No entanto, há que ter em atenção uma coisa importante. À luz da Convenção de Viena que rege as relações diplomáticas entre Estados, os espaços dos edifícios diplomáticos são para todos os efeitos territórios dos respectivos países. Ou seja, ainda que a embaixada iraniana estivesse sediada num T1, a partir do momento em que a porta fosse franquiada pela jornalista, ela encontrar-se-ia em território iraniano, logo sujeita ao respectivo ordenamento jurídico. Sendo assim, não lhe restaria fazer mais nada senão subordinar-se ao código de vestuário que esse país impõe.

Isto contudo também não afasta o meu desconforto e até revolta pela maneira como nós sacrificamos os nossos valores fundamentais em nome da convivência pacífica entre povos. O Irão é conhecido internacionalmente pelas suas posições reaccionárias relativamente aos direitos das mulheres e aos direitos fundamentais em geral.

E, tal como o leitor Carlos Carvalho, também eu me pergunto por onde andarão nestas alturas o PCP e os demagogos do Bloco de Esquerda. Esta gente tão pura nos seus ideais e tão rápida a moralizar sobre as convicções alheias quando são opostas ao seu mundo tão arrumado adora condenar a violência do “Grande Satã Americano” e a sua hipocrisia, mas cala-se perante as violações e negações dos direitos fundamentais no Irão, apoia a ditadura de Chavez e o seu cortejo de atropelos aos direitos fundamentais, olha para o lado perante a campanha racista conduzida pelas milícias janjaweed no Darfur e até convida “lutadores de libertação” iraquianos que têm como passatempo lançar camiões cheios de explosivos para esquadras de polícia ou supermercados em Bagdade. De certa forma, esta gente é mais fundamentalista e ameaçadora do que o mais fanático e louco dos mullhahs.

(João Paulo Brito)
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A silly season já está em pleno e é muito parecida com o resto da season: os noticiários de hoje abrem e abrem e abrem com uma história de um jogador de futebol que foi para outro clube. Feliz país que tem estes profundos problemas nacionais!

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© José Pacheco Pereira
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