ABRUPTO

26.6.07


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ÁTOMOS E BITS

de 26 de Junho de 2007


Agora que os blogues começam a sentar-se no banco dos réus, o que é normal em si mesmo porque a lei não pode ficar à porta da Rede se nela se cometerem crimes, independentemente do juízo que se possa ter sobre os casos da actualidade, há uma coisa que me parece indefensável: que o autor ou autores de um blogue não sejam responsáveis pelos comentários que publicam, anónimos ou não, caso as suas caixas de comentários sejam totalmente abertas. Por isso, os blogues que acham que lá por porem uma salva de prata, ou um prato de barro, em cima de um monte de lixo, podem ser vistos apenas pela prata ou pelo barro, enganam-se. O lixo dos comentários, tantas vezes puramente calunioso, está lá, à vista de todos e não serve nenhuma liberdade, nem nenhuma opinião "anti-sistema", muito menos o "povo" ou a democracia. Bem pelo contrário, serve quase sempre o pior dos sistemas, a mesquinhice da aldeia, a claustrofobia do boato e da insinuação, o crime da calúnia. Depois não se queixem.

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Este seu raciocínio parece-me perfeitamente viciado: "há uma coisa que me parece indefensável: que o autor ou autores de um blogue não sejam responsáveis pelos comentários que publicam, anónimos ou não, caso as suas caixas de comentários sejam totalmente abertas." Primeiro, se a caixa está totalmente aberta não são os autores dos blogues que publicam os comentários, mas o próprio blogspot de uma forma automática. Segundo, quer responsabilizar os autores dos blogs pelos comentários, mas apenas os autores de blogues que não fazem qualquer verificação aos comentários. Aqueles que fazem depender a publicação do comentário da sua aprovação não devem ser responsabilizados. Interessante. Já agora, pelo mesmo raciocínio, o blogspot também deve ser responsabilizado pelo conteúdo dos blogs, uma vez que os publica sem fazer a devida filtragem. E assim se servia a democracia.

(José Marques da Silva)

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Isto é uma maneira simplista de tratar o problema. Como sabe, não é linear que as pessoas sejam responsáveis pelos comentários que outros fazem, em aberto, mas aceito que o assunto "comentários" seja discutível. Eu gosto de comentar, assinando, porque isso me parece ser a essência da discussão inerente ao fenómeno "blogs", e aceito comentários no meu blog, reservando-me o direito de eliminar os que, de algum modo, sejam gratuitamente ofensivos. Você acha melhor não aceitar comentários, o que é o seu direito. Eu gostava que esta discussão se aprofundasse u pouco mais, porque nada disto, para mim, é claro, e, sobretudo não aceito o tom "voilà c'est tout" com que aborda a questão no seu post.

(Henrique Jorge)

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Um blogue não pode ser tratado de forma diferente perante a lei. OS blogues não funcionam sosinhos. Se alguém definiu uma caixa de comentários automática deve ser responsabilzado pelo que lá se publica. Ao defini-la como automática deu azo ao insulto anónimo. A equivalente responsabilidade se aplicará a comentários filtrados, isto é só publicados depois de lidos pelo autor do blogue.

(Miguel Sebastião)

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Quando, nos blogues que mantenho, aparecem insultos nos comentários, basta-me activar (e manter assim durante um dia ou dois) a opção «Apenas utilizadores registados» na caixa «Quem pode comentar». É remédio-santo...

(C. Medina Ribeiro)
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No Prós e Contras sobre o Porto e o Norte, a diferença evidente entre o Porto e Lisboa está na composição da sala: no Norte, alguns dos maiores empresários do país tinham lugar de relevo; no Sul e em Lisboa, uma sala idêntica teria profissionais liberais e funcionários do estado, ou os dois juntos na mesma qualidade. No Sul, o retrato clientelar da Câmara de Lisboa (e do Governo) está patente na entourage de António Costa (como estaria na de Negrão caso se esperasse que ele ganhasse); no Norte, a clientela-espelhar da de Lisboa vocifera contra Rio. A outra abissal diferença está em Rio, uma peça única do sistema político português: "nem que chovam picaretas eu me afasto do programa eleitoral com que fui eleito". As picaretas na sala tinham tentado chover antes, sem grande sucesso. Foi também Rio quem solitariamente lembrou a realidade social da cidade, que as elites "culturais" e, neste caso também empresariais, ou ignoram ou fazem que ignoram: o Porto é uma cidade com 20% de quase excluídos, em bairros sociais que substituíram as "ilhas" e que permanecem guetos de marginalidade e criminalidade.

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Importa perceber qual o problema causado ao Porto pelo facto de Rui Rio ser o Presidente da Câmara. Dois aspectos complementares.

1) A qualidade da Democracia. Ser eleito não dá direito a tomar decisões só porque sim. Se são importantes para a população e não estavam explicitamente previstas no programa eleitoral, é fundamental que haja um processo de diálogo sincero com os munícipes. Isso não tem acontecido. É o estilo "eu fui eleito, por isso julguem-me só no fim do mandato".

2) A eficácia e a escala da acção. A Câmara não tem poder nem recursos para resolver todos os problemas da cidade e da região. Nem interessa que tenha. O papel da Câmara é planear/garantir as infraestruturas da cidade e, em coordenação com a Administração Central, colmatar aquilo que a sociedade civil deixa por resolver. Tudo isto tem quer ser também em colaboração com a própria sociedade civil; se assim não for os efeitos da sua acção serão muito insuficientes. A escala só se ganha ao conquistar as elites mais activas e a população em geral. Não é criando conflitos idiotas que esse objectivo se alcança. Por isso é que a cidade avança a passo de caracol e continuamos a perder terreno para as principais cidades europeias.

Rui Rio faz bem muita coisa, mas perde-se por causa dos seus "vícios". Quanto ao fraco debate, está a ser amplamente comentado n' A Baixa do Porto. A discussão nos blogs (neste e noutros) tem sido bem melhor do que a da TV...

(Tiago Azevedo Fernandes)

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A grande inovação de Rio na política nacional foi não alinhar c/ os poderes fáticos. Para isso teve de ser "democraticamente autoritário". Isto é (ab)usar da autoridade e legitimidade concedida pelo voto para afastar o dueto futebol&cultura subsidiada da Praça dos Aliados. Essa capacidade de enfrentar e ganhar a poderes e poderzinhos há muito sentados na mesa orçamental da Praça dos Aliados faz falta ao país. É necessária em todas as camaras e na administração central. Obviamente o homem não é perfeito. Mas também é verdade que as contas da CMP parecem estar em ordem ao contrário de muito endividamento de que vive o poder autarquico mais "modernaço", vidé o vizinho Gondomar ou a CML. Por muito que custe a muita gente com mania das grandezas e c/ a fobia de nos afastarmos das outras cidades europeias, temos que viver c/ o que temos. Ambição sim, mas c/ esforço e trabalho, não c/ dividas que as gerações futuras vão ter que pagar.

(Miguel Sebastião)

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