ABRUPTO

2.6.07


BIBLIOFILIA: COMPRAS DA FEIRA DO LIVRO

Embora todos os anos se diga que a Feira (de Lisboa) está pior, para um bibliófilo está mesmo cada vez pior. A culpa não é da Feira em si, que, melhor ou pior, continua a ser uma boa iniciativa urbana, a culpa primeira está nos mais vocais queixosos da Feira, os editores. São os editores que publicando quilómetros de lixo, que enchem as livrarias e os balcões da Feira, tornam o livro que se vende novo completamente desinteressante. Há excepções, claro, excelentes editoras, mas a regra é o livrinho de capa frívola e texto imbecil de qualquer autor secundário na moda este ano, desaparecido do mapa no seguinte. Cada vez mais reforço a minha moratória de só ler livros (de ficção) que resistam dez anos em qualquer memória viva.

Assim, é natural que acabem por ser os balcões dos alfarrabistas aqueles que mais gente tem à volta, e foi isso o que observei na Feira. Nos alfarrabistas, infelizmente poucos, encontram-se as verdadeiras "novidades", os velhos livros que nunca conhecera, os livros que sempre quisera ter e não tivera dinheiro para comprar, os livros que antes nunca pensei comprar e agora compro com gosto. Os livros é assim, sempre surpresas, sempre infinitos, cabem sempre mais. Na colheita deste ano, na primeira apanha, aqui estão alguns.

Várias grandes capas, com relevo para uma do mestre Sebastião Rodrigues, num livro de William Styron:



Depois há aquilo que um frequentador de alfarrabistas encontra vezes sem conta: bibliotecas mortas, em decomposição, cada livro vendido misturado anonimamente em pilhas que anunciam os preços, um euro, dois, cinco. Percebe-se que já houve um nexo, uma escolha, uma selecção, entretanto perdida, quase sempre por morte, por doença, por pobreza, raras vezes por desinteresse. Os herdeiros, esses grandes inimigos das bibliotecas pessoais, fizeram aqui a sua obra dissolvente. Em mais do que um alfarrabista, nos tabuleiros, encontrei esses restos que agora, combatendo contra a seta do tempo, vou tentar reconstituir, até ao meu próprio Dia.

Por exemplo, alguém gostava de livros sobre as tecnologias dos transportes, barcos e aviões,



alguém gostava de literatura francesa dos anos trinta e quarenta (os anos da sua juventude?), Mauriac, em particular, Gide, Julien Benda, Colette. Este livro de Benda, uma série de críticas literárias, nunca tinha visto.



Depois há os restos que já vivem solitários, que se compram individualmente, mais por curiosidade, por mania bibliófila: um Múrias "imperial", um João das Regras comentando em tempo quase real, os julgamentos de Nuremberg, uma biografia de Chiang Kai Shek (na grafia da época), um livro curioso e raro sobre ocultismo.



Vamos ver o que dá a segunda apanha.

(Clicar para aumentar as capas.)

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© José Pacheco Pereira
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