ABRUPTO

22.3.07


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ÁTOMOS E BITS

de 22 de Março de 2007 (2)

Anda para aí grande celeuma com a notícia do Público sobre o grau académico do Primeiro-Ministro José Sócrates. Esta questão está longe de ser nova: aqui no Abrupto, uma vez que escrevi "engenheiro Sócrates". Uma série de engenheiros escreveram a protestar. Nos blogues, e em blogues assinados, havia já muita informação factual há muito tempo sobre esta questão e só estranho que ela tenha levado tanto tempo a ser tratada na imprensa.

Por isto se percebe que acho completamente legítimo que o Público o tenha feito e só discordo que sinta necessidade de o justificar. É exactamente isto que os jornais devem fazer para exercer a sua função: uma investigação própria, com uma agenda própria. Não há qualquer intromissão em questões privadas e nenhum preconceito contra o facto de o Primeiro-Ministro ter ou não ter um "dr." ou "eng." antes do nome. Isto só se estranha por ser raro.

O que acontece é que em qualquer democracia, a contradição entre a biografia oficial do Primeiro-Ministro e os factos, é matéria noticiosa. Ora, se tudo estivesse bem, essa biografia não teria sido mudada há poucos dias, exactamente quando a controvérsia ameaçava passar dos blogues para os jornais.

[Nota posterior: esta não é matéria "de oposição" a não ser que existisse qualquer implicação criminal. Aí sim percebia-se que um partido suscitasse a questão. Fora disso, é uma matéria de opinião pública, que apenas implica uma sanção dessa mesma opinião, tanto mais livre quanto resultar da independência de todos, da comunicação social em particular. Convinha ser muito prudente em proclamações morais que normalmente acabam por cair em cima de quem as faz.]

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Se José Sócrates Pinto de Sousa é Engenheiro ou Economista , não me é relevante . A sabedoria de um homem não se vê pela sua educação formal. Um Doutorado pode ser a pessoa mais obtusa da face da terra e uma pessoa com a quarta classe a pessoa mais competente do mundo.

Dito isto , não me parece que José Sócrates Pinto de Sousa esteja isento de culpas . Parece que durante muito tempo andou a jogar ao gato e ao rato com a comunicação social a propósito deste assunto , varrendo a questão da sua licenciatura para debaixo do tapete e levantando uma nuvem de fumo .

Eu eleitor faço-me a pergunta : Se perante uma questão de somenos importância ( que o é! ) José Sócrates Pinto de Sousa tem esta atitude , como será em questões cruciais para o futuro do Pais e que estão na agenda mediática , como a Ota e o TGV ? Podemos confiar neste homem ?

Paralelamente a esta questão , está implicita outra. A primazia da forma sobre o conteudo . A máquina de propaganda do PS quer criar em Sócrates o homem providencial , uma nova versão do Sebastianismo que vai tirar Portugal das Trevas. E esse homem tem de ser sem defeitos. E não ser Engenheiro numa universidade de prestigio , nesta versão do D.Sebastião que o PS quer vender aos Portugueses ..é um defeito . E os defeitos tem de se eliminar.

(João Melo)

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Estou completamente em desacordo com a sua opinião sobre o artigo do Público acerca da licenciatura de José Sócrates. Ao contrário do que diz, o Público não fez nenhuma investigação e não apresenta nenhuma conclusão acerca do assunto. Limita-se a mencionar falhas nalguns documentos, deixando a insinuação de que terão existido irregularidades, mas não tenta averiguar se foi esse o caso.

Quanto à incorrecção no biografia do Primeiro-ministro, de facto o título correcto é licenciado em engenharia e não engenheiro. Mas essa incorrecção é muito comum e resulta apenas da nossa ridícula obsessão com títulos. Por exemplo, que eu saiba, o Dr. Marques Mendes não é doutorado, mas nenhum doutorado se ofende com o facto de se ele usar este título.

Se o Público quiser fazer pedagogia e defender que nos passemos a referir às pessoas sem utilizar títulos académicos, acho muito louvável. Não concordo que se trate isoladamente o caso de José Sócrates.

(Pedro F. dos Santos)

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"O seu leitor Pedro Santos ignora que o título "Dr." (assim abreviado) é o correcto no "protocolo" habitual para licenciados em Economia ou Direito, por exemplo. Quem faz um doutoramento será "Doutor", por extenso. Licenciados de outros cursos devidamente reconhecidos noutras áreas serão "Arq.º", "Engº", etc.

O ponto principal caso de Sócrates não é se seria bom ou mau ele ser engenheiro, mas sim se ele usou abusivamente um título que sabia não ter, motivado precisamente por uma "ridícula obsessão com títulos". Está provado que sim, e ele próprio o reconhece ao alterar a biografia oficial removendo o título.

Passou a ser só o "Sr. José Sócrates", o que não teria mal nenhum não fosse a importância que ele próprio deu ao falso título de "Eng.º". Tristezas.

(Tiago Azevedo Fernandes)

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