ABRUPTO

16.3.07


FESTA DO SCANNER RESSUSCITADO:
COREOGRAFIAS DO PODER E DA AUTORIDADE



Esta série de fotografias não datadas (embora não seja difícil datá-las pelas "autoridades" presentes) são de uma inauguração ligada à Mocidade Portuguesa (MP). Não é de excluir, apesar da unidade do lote - mesmo fotógrafo, mesmo tamanho, mesmas personagens -, que sejam de vários eventos do mesmo dia, sendo que um deles é uma exposição filatélica da MP. Na época em que foram tiradas, a MP já é um instituição em grande decadência, sem qualquer projecção fora do círculo interior do regime de Salazar e Caetano.

Tudo é trivial nestas fotografias, mais um acto público com o Presidente da República Américo Tomás, vários ministros e outras personalidades. Milhares deste tipo de funções repetiram-se dia a dia como ersatz duma vida pública que não existia fora das instituições do regime. O ridículo destas inaugurações era um sentimento generalizado, agravado pela presença de Américo Tomás dado a dizer umas platitudes até ao limite da asneira, que a censura tinha que cortar.

Mas há nestas fotografias oficiais, num regime em que era tudo ou oficial ou subversivo, um retrato da coreografia do regime, uma sucessão de gestos rituais que podem parecer semelhantes aos das democracias - inaugurar, cumprimentar, fazer pose de ver para as fotografias, etc. - mas que transportam uma quase visível simbologia do poder que não se questiona mais pelo "respeitinho" que pelo seu exercício de facto, da autoridade provinciana, de todo um mundo perdido no seu labirinto terminal de mofo e cansaço.

Aqui vão algumas dessas fotos "comentadas": à entrada, a primeira fila olha sempre para o mesmo sítio; a segunda fila (que deve incluir a segurança da PIDE) olha em frente; a Senhora sorri, todos sorriem na primeira fila, ninguém na segunda. O que o Primeiro faz, fazem os Segundos. Habitualmente.







(Continua)

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© José Pacheco Pereira
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