ABRUPTO

30.1.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Janeiro de 2007


Acho obscena, assim mesmo: obscena, a utilização de crianças e adolescentes em programas como o Prós e Contras de ontem para falarem ou se manifestarem sobre o aborto. Tal me parece ser da mesma exacta natureza que o inquérito sobre os costumes sexuais dos pais, que tanta condenação suscitou e bem. Antigamente, no tempo em que os animais falavam, havia uma regra deontológica dos jornalistas que impedia entrevistas a menores sobre estes temas. Caducou?
NOTA: A Fátima Campos Ferreira informou-me que nenhum dos entrevistados tinha menos de 20 anos. Fica feita a correcção e apresentadas as desculpas devidas. Quanto à presença no programa de adolescentes, que se manifestaram como se de uma claque se tratasse, quer neste quer no anterior programa sobre o aborto, ela é incontroversa. Reitero no entanto, a referência a entrevistas a crianças e adolescentes sobre o aborto, em noticiários da RTP, como aquele em que se cobriu uma manifestação "pela vida". A questão deontológiva que pretendi levantar permanece váilida.
*

Um sinal de como as coisas estão para além da nossa enganadora vaidade futebolística: petição para manter o português na Universidade de Cambridge.
To: University of Cambridge
At present, papers on Portuguese Language, Linguistics, Literature, History and Culture of Portugal, Brazil and Portuguese-speaking Africa, covering periods from the 16th century to the present day are taught as a full Tripos language in the University of Cambridge. The Portuguese government grants 30 000 euros (about £ 20 000) to the University of Cambridge for their teaching of Portuguese, via the Instituto Camões which sponsors Portuguese language and their teaching worldwide.
Portuguese in Cambridge is a thriving and growing subject. It is vigorous in terms of research and publications and has been growing exponentially in student applications. Past postgraduates all now hold academic posts either in Russell Group universities or in major universities in the USA. Portuguese has been twice singled out for praise by University Reviews of the Faculty of Modern and Medieval Languages, and it is officially regarded by the Faculty and by the University as one of its success stories.
The Faculty of Modern and Medieval Languages has now endorsed the proposal to suspend Portuguese as a full Tripos language on financial grounds. This proposal was initiated not by the University but by the Department of Spanish and Portuguese, under no pressure and at no suggestion from either the University or the Faculty of Modern and Medieval Languages, and with total disagreement from the University Teaching Officer in Portuguese. If this proposal goes ahead, no student, whether undergraduate or postgraduate, will emerge from a degree in Cambridge with more than a reading knowledge of Portuguese. A postgraduate degree attempted by anyone with reading but no written or oral command of the language, would almost certainly be doomed to failure. This would also entirely discredit scholarship in that subject as well as the institution that purported to grant it.
If the University lacks the funding it has not been because of lack of payment by the Instituto Camões, and therefore it can be hardly understandable. This situation is a shame and it brings the University into disrepute. Portuguese is the fifth most spoken language in the world (about 232 000 000 native speakers), and a language of the European Union. It's the language of one of the world's largest and growing economy (Brazil). Portuguese as a language has an irrefutable role in World's History and Literature.
If you wish to object and express your views on the proposed closure of Portuguese at Cambridge, please sign this petition.

Sincerely,
The Undersigned
*
A petição para manter o ensino do português em Cambridge faz naturalmente sentido e assinei-a. Contudo, gostaria de fazer um par de comentários, espero que construtivos. Primeiro, talvez fosse útil apresentar simultaneamente o texto da petição em português, já que nem todas as pessoas interessadas em lê-la dominarão necessariamente o inglês e todas as assinaturas são importantes. Segundo, o texto diz que "o governo português disponibiliza 30.000 euros (cerca de 20.000 libras) à Universidade de Cambridge pelo seu ensino do português, por via do Instituto Camões" e, mais adiante, "Se a Universidade tem falta de fundos, ela não se deve a falta de pagamento por parte do Instituto Camões e, como tal, é dificilmente compreensível." Não será este raciocínio um pouco simplista, podendo mais tarde fornecer razão à Universidade de Cambridge para dar pouca importância à petição? Se as referidas 20.000 libras são uma contribuição anual do governo português (o texto não especifica), parece-me bem magra, não chegando sequer para cobrir o salário dum docente. E se esta é a única ou uma das principais fontes de financiamento do ensino do português na Universidade, então é afinal compreensível (o que não quer dizer louvável) que se considere a hipótese de lhe pôr fim... Julgo que a questão fulcral é a de como deve ser dividida a responsabilidade de financiamento do ensino da língua, entre uma Universidade estrangeira e o governo português. Assim, pergunto-me se a Universidade de Cambridge será o único destinatário óbvio duma petição como esta.

(Pedro Gomes)

*

Após ter recebido o tal email enviado pelo Sr. Pedro, decidi responder
detalhadamente acerca da sua questão. Recebendo agora este último email que transcrevi pensei que seria igualmente adequeado dar uma resposta mais
correcta e coerente sobre o que se está a passar com o curso de Português
em Cambridge. Respondendo à primeira pergunta, a sociedade lusófona de
cambridge decidiu expor esta petição como forma de divulgar mundialmente
através da rede o que se está a passar. Naturalmente, esta petição é
dirigida à Vice-Reitora e ao conselho da Universidade, pois são estas
pessoas que ultimamente, vão decidir o destino do curso de Português. Expor
o texto também na língua portuguesa seria apenas desperdício de tempo. Pelo volume de assinaturas já obtido, não vejo que o texto em Inglês seja um
problema. Mais que isso, demonstra que países pequenos como o nosso
conseguem ter um nível de ensino de línguas bastante positivo sem ter
universidades mega-financiadas como a de Cambridge. Relativamente ao
Instituto Camões, há que notificar que é das poucas instituições a
financiar um curso específico dentro da universidade e não um departamento.
Suficiente ou não, penso que seja, pois o Instituto não financia
exclusivamente a universidade de cambridge e tem investimentos em pelo
menos 5 insituições britânicas incluíndo Oxford, que curiosamente, tem um
departamento exclusivo de português e estudos lusófonos. Se adicionarmos os valores investidos noutros países lusófonos onde são enviados professores
de português, vemos que o montante investido largamente ultrapassa os 2
milhões de euros (estando a arredondar muito por baixo!). A questão
central, não é a do montante investido pelo Instituto nem é se o governo
investe bem ou mal na divulgação da língua portuguesa, visto que o
Português é falado em vários países e nenhum deles financia nenhum curso no estrangeiro segundo sei. Isto não tem rigorosamente nada a ver com o
governo português nem com Portugal. Fico bastante triste ao ler certos
comentários expostos na petição a culparem o governo português por isto
(qualidade que, infelizmente, é característica do nosso povo). Tirando o
óbvio do caminho, passarei a explicar o que se sucedeu concretamente com
esta situação. Há já vários anos que o curso de Português (chamado de
Tripos, que deriva de tripartido, portanto um ano tronco comum
português-espanhol, segundo de especialização, 3º residencia num país
nativo da língua a aprender, e 4º tese e estudos aprofundados da língua e
literatura) tem sido um patinho feio do departamento de espanhol e
português pois, com muito menos recursos, conseguiu atingir um elevado
número de alunos, excelente qualidade de pesquisa reconhecida pela RAE (a
instituição britânica que qualifica o nível de pesquisa) e os seus
pós-graduados, (doutorados e mestres) conseguiram postos em universidades de renome nos estado unidos e Reino Unido. Tal como diz a petição, já foi
distinguido como caso de sucesso. Ora bem, o director e sub-director do
departamento de espanhol e português, curiosamente ligados ao ensino de
espanhol, decidiram, por si próprios e sem a consulta prévia da University
Teaching Officer do curso de Português, "restruturar" o tripos português.
Restruturar, significa acabar com o estatuto de tripos (licenciatura) e
apenas leccionar uma cadeira no 2º ano do curso de espanhol que é uma
introdução básica ao português, equivalente ao nível que se ensina a
crianças de 7-8 anos em Portugal, cadeira essa que já existe e é leccionada
prefrencialmente a pessoas de outros cursos de línguas como opcional. Ora,
a decisão desta "restruturação" foi ditada por "motivos financeiros". Isto,
sem qualquer incitação por parte da faculdade de linguas ou da
universidade. A proposta foi aceite pela Faculdade porque partiu do próprio
director... Tudo isto sem: anunciar aos alunos que estava uma proposta na
mesa para a tal restruturação. Esta foi anunciada como "fait acompli"; nem
uma palavra ao instituto camões (portanto, queriam continuar a receber o
dinheirinho sem haver nada para financiar), sendo este informado
primeiramente, veja só, pelo jornal dos estudantes de cambridge o Varsity.
Ultimamente, tudo feito pela "porta do cavalo" sem respeitar maioria das
regras da universidade no que toca a término de licenciaturas. A esperança
do departamento de espanhol e português, era que, acabava-se com isto, é
português ninguém se interessa, faz-se pouco barulho e continua-se a
receber o dinheirinho para sustentar o espanhol. Óbviamente, especulo, mas
sem dúvida que, pelos procedimentos apresentados, foi este o raciocínio dos
professores de espanhol que lideram o departamento. Felizmente, há muitos
alunos de espanhol que estão a apoiar totalmente a luta contra o fecho de
português. Explanado mais ou menos o historial do que se passa, aqui vai em
grosso modo, o comunicado oficial da pro-vice-reitora para a educação: A
"restruturação" acontece para "salvar" o ensino de língua portuguesa na
universidade. O curso tem corrido com problemas de staff pois estes têm uma
sobrecarga horária que não é permitida pelo EXCESSO de alunos a tirar o
curso. Finalmente, as razões para fechar não são totalmente financeiras...
Bem, tire as conclusões que quiser, mas pelos vistos, o curso vai fechar
porque é popular demais! Para mim, faria mais sentido abrir um departamento
de português independente e financiá-lo correctamente com mais docentes do que acabar com o curso. Felizmente, o conselho para a educação da
Universidade constituído por 10 membros, ouviu os alunos, concordou e
classificou a proposta do departamento como "chocante" e sem fundamento. 9 dos 10 votaram para revisão da proposta, isto é, vai para trás para ser
reformulada e refeita, pois os argumentos apresentados não são minimamente
válidos para acabar com uma licenciatura (ora que grande surpresa...).

(Deve-se) tentar organizar o máximo número de personalidades para contactar a universidade e mostrar o desagrado. Isto é diplomaticamente grave e o
governo e partidos políticos só podem ajudar para que a proposta renovada
nunca seja aceite. Deixo desde já, a morada e contacto da Vice-Reitora da
Universidade de Cambridge:

Prof. Alison Richard,
Vice-Chancellor,
University of Cambridge,
The Old Schools,
Cambridge CB2 1TT
United Kingdom

Em anexo, ver

Statement issued by the Pro-Vice-Chancellor for Education
Professor Melveena McKendrick on 26th January 2007
,

See the Article in the Varsity


(André Almeida B.A. (cantab hons) Mphil Student Department of Biological
Anthropology, Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, Fitzwilliam
Street Cambridge U.K.)

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