ABRUPTO

24.1.07


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ÁTOMOS E BITS

de 24 de Janeiro de 2007


Debate parlamentar: Sócrates é um exemplo do estilo de debate parlamentar que se tornou dominante nos últimos anos. Nesse estilo de debate é bom, faz bem a parada e a resposta, é ágil, agressivo no incidental, não tem pejo nenhum em usar expressões como "somos os primeiros na Europa a...", ataca sempre que pode o PSD (ele que é um pragmático sabe que o PSD é a alternativa e, mesmo minimizando a oposição, ataca-a frase sim, frase sim) mesmo em questões de Estado que implicariam distância da polémica inter-partidária. No seu conjunto, não tem grande vocabulário nem referências fora da política mais imediata, é eficaz para uma televisão complacente, repete o mesmo quantas vezes for preciso, para não dispersar o que quer dizer e condicionar a citação, é muito próximo do estilo jornalístico de tratar as questões, não tem dúvidas, nem hesitações. É monocórdico, proclama muito e ouve pouco. Tem umas noções de marketing e de comunicação, para além do treino que lhe dá a política profissional. Depois, Sócrates traz da sua formação académica de engenheiro, um know-how técnico e uma mentalidade tecnocrática. Hoje, ao falar de energia e de ambiente, de vez em quando lá aparecia o jargão, por exemplo quando falou de um "mix" de fontes de energia, pequenas palavras denunciadoras de um estilo de leitura de relatórios e de apresentações de PowerPoint.

É um estilo de intervenção parlamentar que ele partilha com a sua geração de políticos, com carreiras mais ou menos profissionalizadas nos partidos desde as juventudes. Vivendo num meio em que quase só se fala de política, só se lêem jornais, só se vê noticiários, adquire-se uma memória orientada para a narrativa política estereotipada, um traquejo no incidente e contra-incidente, na lembrança insidiosa ("tu acusas-me de fazer isto, mas tu também já fizeste aquilo"...), no responder ao lado, em habilidades múltiplas. Tudo isto ele faz bem, insisto, melhor do que os outros oficiais e os muitos aprendizes da mesma escola, que enchem o Parlamento.

Como hoje este tipo de discurso é hegemónico, é o “normal”, as pessoas já não conhecem alternativas, e tomam-no por único e bastante. Os outros estilos parlamentares quase desapareceram do hemiciclo, desde o velho estilo da retórica republicana (como era o de Fernando Amaral), ao estilo jurídico coimbrão, pesado e solene (Marques Mendes ainda mantém traços desse estilo que era o de Barbosa de Melo, por exemplo) ou a um estilo mais denso e "humanista" nas referências como era o de Jaime Gama nos discursos de fundo. Este é o cânone actual do “politiquês” parlamentar.

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Assisti em directo ao discurso do estado da União do Pres. Bush.

Li o respectivo texto disponibilizado na net.

É surpreendente - para mim, pelo menos - o grau de cortesia e afabilidade como decorreu esse acto público no Congersso dos E.U.A.

Desde o caloroso cumprimento - que me pareceu sincero e genuíno - dirigido à speaker Nancy Pelosi, até às frequentes ovações - de republicanos e democratas, note-se - com que foram brindadas muitas das afirmações e propostas do Presidente.

Que contraste com o nosso Parlamento !

(Paulo Silva)

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Concordo com o que o leitor Paulo Silva diz acerca das diferenças entre o discurso de Bush , do estado da Nação e a atitude de Sócrates perante o Parlamento.

São os chamados " rituais de poder ". Aquelas pequenas tradições ( muitas vezes regras não escritas ...) que ajudam a cimentar as democracias , a aproximar os cidadãos e os políticos , a tornar a democracia mais perfeita , para lá das leis e da estrutura formal das instituições .

Nos EUA, são vários esses " rituais de poder. Recentemente, aquando da remodelação de Donald Rumsfeld por Robert Gates , Rumsfeld esteve presente na conferência de imprensa em que Bush anunciou essa decisão . Em Portugal, quem não se lembra de Manuela Arcanjo a defender um Orçamento Rectificativo no Parlamento, quando toda a gente sabia ( menos ela...), que ela já estava de saída ?

Outro exemplo é o facto de por regra antigos Presidentes dos EUA não criticarem o Presidente em funções . Quantos vezes Mário Soares não criticou antigos Primeiros - Ministros ( cargo equivalente , na medida em que é aquele que tem o poder executivo..) , fragilizando aqueles?

Poderia elencar mais "rituais de poder". Mas não vale a pena. Chega para demonstrar que Portugal ainda é uma democracia imatura e que os políticos Portugueses são imaturos.

A começar por José Sócrates , com uma atitude no Parlamento a roçar a má -educação. O dedo em riste , as caretas , as ironias venenosas e infantis, mandar calar deputados , são actos lamentáveis e que só envergonham o Pais. Afinal , José Sócrates é um representante de Portugal.

(João Melo)

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© José Pacheco Pereira
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