ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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29.1.07
APRENDER COM CAMILO CASTELO BRANCO: "HÁ-DE CHORAR AINDA QUE LHE CUSTE" "A todos os que lerem É uma historia que faz arrepiar os cabelos. Há aqui bacamartes e pistolas, lágrimas e sangue, gemidos e berros, anjos e demónios. É um arsenal, uma sarrabulhada, e um dia de juízo! Isto sim que é romance! Não é romance; é um soalheiro, mas trágico, mas horrível, soalheiro em que o sol esconde a cara, (...) Há aí almas de pedra, corações de zinco, olhos de vidro, peitos de asfalto? Que venham para cá. Aqui há cebola para todos os olhos; Broca para todas as almas; Cadinhos de fundição metalúrgica para todos os peitos. Não se resiste a isto. Há-de chorar toda a gente, ou eu vou contar aos peixes, como o padre Vieira, este miserando conto. (...) Tenha paciência; há-de chorar ainda que lhe custe." Camilo dirige-se assim aos seus leitores prevenindo-os que O Que Fazem Mulheres, um "romance filosófico", tinha "cebola para todos os olhos". Ou choravam, ou ele ia pregar aos peixes. Excelente leitura para estes tempos em que o pathos escorre das paredes, blogues e ecrãs (a mesma coisa aliás) e o mundo se torna pegajoso de tantos sentimentos à solta e tanto amor a pingar por todo o lado. Bem sei que é o "espectáculo", - Camilo também sabia, chamava-o "soalheiro" -, o pano de fundo da superficialidade moderna e dos Pequenos Homens (e Mulheres) de quem Nietzsche não gostava. O que se há-de fazer senão fortalecer "almas de pedra, corações de zinco, olhos de vidro, peitos de asfalto" e sorrir? (E ler Camilo que tem vindo a ser publicado numa excelente edição da Caixotim, já com doze livros cá fora.) Etiquetas: Camilo Castelo Branco (url)
© José Pacheco Pereira
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