ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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1.9.06
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 1 de Setembro de 2006 O Jornal de Letras é muitas vezes o mais aborrecido dos jornais, retrato dos gostos culturais da geração de 1962 e de um establishment cultural em implosão, cada vez com menos influência e "vida". O jornal vive de subsídios indirectos do Estado, através de compras institucionais que o tornam o jornal oficioso dos leitorados e do Instituto Camões por todo o mundo e, em Portugal, um jornal para professores. Acontece, o tempo é sempre cruel. No fio dos seus dedos encontram-se às vezes, coisas únicas, coisas que só poderiam estar ali. O último número dedicado à guerra civil de Espanha (o jornal não está em linha e nunca pareceu interessar-se sequer em ter um mínimo de informações na rede, com excepção de uma ligação secundária no lugar da Visão) inclui um interessante ensaio de António Pedro Pita sobre o papel da guerra na arte e literatura portuguesas, de leitura obrigatória para quem só acede a estas questões através do revisionismo histórico que hoje faz moda. Mas este número tem outro mérito, um artigo de Luisa Dacosta sobre a morte de Manuel Lopes, que conheci sempre como o "senhor Manuel da Póvoa". O senhor Manuel da Póvoa foi o responsável pela Biblioteca da Póvoa e o animador de muitas iniciativas locais, como a construção e lançamento da lancha poveira, a que dedicou muitas das suas precárias energias. Era daquelas raras pessoas que se não existisse lá, onde viveu e morreu, tudo seria diferente. Estava condenado à morte muito tempo antes de morrer, tinha mau feitio e uma dedicação sem limites às suas múltiplas obras. Tinha tudo contra ele, porque o senhor Manuel da Póvoa era anão. Só o Jornal de Letras se lembrou dele numa publicação nacional. Há algo de errado nas famas de hoje. Muito errado. [Actualizado: por gentileza de Isabel Goulão, acrescento mais algumas referências a Manuel Lopes: de José Milhazes, e de uma notícia do Público em que se refere a doação da sua casa e dos seus livros à Câmara da Póvoa do Varzim.] (url)
© José Pacheco Pereira
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