ABRUPTO

2.9.06


FONTES PARA A HISTÓRIA DO ENGRAÇADISMO NACIONAL



Ordinariamente, chamam-se, à francesa — espirituosos - uns sujeitos dotados de génio motejador, aplaudidos com a gargalhada, e aborrecidos àqueles mesmos que os aplaudem. São os caricaturistas da graciosidade. 0 "espirituoso", à moderna, abrange os variados ofícios que, antes da nacionalização daquele estrangeirismo, pertenciam parcialmente aos seguintes personagens, uns de casa, outros importados:

Chocarreiro — trejeiteador — arlequim — palhaço — proxinela — polichinelo — maninelo — truão — jogral — goliardo —histrião — farsista — farsola — vegete — bobo — pierrot — momo — bufão — folião, etc.


Esta riqueza de sinonímia denota que o Bobo medieval bracejou na Península Ibérica vergônteas e enxertias em tanta cópia que foi preciso dar nome às espécies.
Ora, o "espirituoso" tem de todas. A antiga jogralidade, que era mester vil, acendrada nos secretos crisóis do progresso social, chegou a nós afidalgada em "espirito", e com o foro maior de faculdade poderosa, caústica, implacável. Ainda assim o estreme espirito portugues, por mais que o afiem e agucem, é sempre rombo e lerdo: não se emancipa da velha escola das farsas: é chalaça.

(Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho)

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© José Pacheco Pereira
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