ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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22.9.06
COMPROMISSOS Há casos em que a distinção entre “sociedade civil” e mundo político é perversa e enganadora. Um deles, evidente como um enorme reclame de néon, é o do Compromisso Portugal. A iniciativa é política até ao tutano, traduzindo a politização do nosso mundo de gestores (e em menor grau de empresários, menos representados na reunião), mas afirma parar à porta da política, quer-se dizer da política partidária, mecanismo pelo qual nas democracias se conseguem os votos para governar. O resultado é uma sensação de grande irrealidade. As propostas não são novas, mas isso seria apenas uma questão mediática que em nada invalidava a sua oportunidade. A questão é outra: é que, sabendo-se o que se deseja, nenhuma resposta é dada à questão de como realizá-lo, de como chegar lá. Que forças sociais podem ser mobilizadas, como se traduzem esses movimentos em votos, como se organizam e expressam politicamente para terem eficácia em democracia? Sim, porque em democracia o lobiismo de movimentos proto-políticos que não tem expressão partidária, nem vai às urnas, é apenas e só lobiismo. E o lobiismo, o mexer das influências, quando feito em público, sem sequência, nem consequência, fica mais fraco pela repetição. De cada vez que se repete a mesma coisa, sem acrescentar meios nem apontar instrumentos, a sensação de impotência cresce. Eu também penso que há excesso de hegemonização da vida política pelos partidos e que é bom que haja outros parceiros activos na vida pública. Mas, a não ser que se queira apenas ser lobiista (e é isso o que muitos destes gestores sabem fazer bem nos meandros do poder, logo convencem-se que isso pode ser transposto para os eleitores) seria melhor usar os recursos disponíveis para intervir na sociedade civil para formar opinião. Formar opinião: invistam em think tanks, em estudos sérios, em jornais e revistas, em conferências, em ensino de excelência não apenas para as empresas mas para a actividade cívica, apoiem iniciativas modelo que mostrem a eficácia das propostas, etc, etc. Apoiem os políticos e os partidos que melhor pensam poder expressar essas propostas. Às claras, para se saber. Sem receios. Ou então façam um partido político e concorram às eleições, uma solução que daria uma grande legitimidade ao movimento e acabaria com algumas ambiguidades sobre as naturais ambições de alguns dos seus proponentes. E acima de tudo dêem o exemplo, a melhor das propagandas. É um trabalho moroso e que só dá frutos a prazo, mas o único que pode ser eficaz. É que reunirem-se em fileiras cerradas, direitos e compostos, numa imagem sem qualquer modernidade e apelo, como qualquer especialista de marketing vos poderá dizer, com os jornais a divulgarem promessas com a mesma consistência das promessas eleitorais dos políticos, dá a pior das imagens e serve mal muitas das propostas com as quais concordo. Só que o mundo dos portugueses não tem a ordem asséptica das cadeiras do Beato e esse é que é o problema que o Compromisso Portugal não quer pensar, ou não sabe pensar, ou não pode pensar. * Escrevo-lhe a propósito da sua posta acerca do Compromisso Portugal. É inegável que a coisa tem defeitos e que as pessoas que o promovem e que nele participam possuem interesses económicos e políticos passíveis de serem afectados pelas propostas que fazem. Ou seja, há conflitos de interesses. Só que, conflitos de interesses temos todos na vida, e não me parece que isso seja motivo para não se opinar sobre determinado assunto. Julgo que as propostas do Compromisso Portugal devem ser discutidas pela proposta em si, e afastando-nos de quem as propõe, como em qualquer discussão de ideias que se quer civilizada. (url)
© José Pacheco Pereira
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