ABRUPTO

1.8.06


LENDO
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OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Agosto de 2006


Hoje é o dia oficial da transumância nacional para o Algarve. Alguém levanta uma ponta do país, como se de uma tábua se tratasse, e a gravidade faz o resto. Só quem está apegado à terra, quase sempre por pobreza e trabalho, e os originais que rumam a norte, a uma outra estrela, escapam do declive nacional para as semi-ondas de água morna. O meu mar é outro, mais bravio e frio.

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So what?
Não será também o dia da transumância nacional espanhola para a Costa do Sol ou para a Costa Blanca ou para a Costa Brava, ou, com sorte, para as ilhas? E o dia da transumância nacional italiana, ainda com mais sorte, para as praias da Sardenha? E a dos franceses para a Camarga?

Mais uma vez constato no seu discurso, com pena, uma espécie de sobranceria que não calha bem com a sua sofisticação intelectual. O povo gosta de praia com sol quente, mar ameno; o povo tem férias em Agosto, as crianças têm férias em Agosto, as fábricas fecham em Agosto; Portugal tem o Algarve, o Alentejo, os outros têm as Cyclades, a Córsega ou não têm nada…So What?

O novo/velho discurso de desprezo pelo Algarve porque é o destino de todos ou só de alguns, porque é muito português ou já não é nada português, porque é popular ou porque é in, porque é só praia ou porque a praia não presta, é absolutamente redutor, snob e está estafado.

O Algarve é apenas um recanto bonito de Portugal, onde há sol, mar ameno e limpo, um aroma a Mediterrâneo ainda intacto, gente boa de trato difícil, comida deliciosa. É um caos urbanístico? É, mas bem menos do que a costa espanhola. Tem muita gente em Agosto? Tem, tal como toda as praias do Sul da Europa. É muito caro? Menos do que a maioria dos outros lugares de veraneio. É o destino da classe média? Será, mas sempre é preferível do que esta se endivide para ir para Cuba ou para Punta Cana. Está infestado das “novas celebridades” nacionais? Está, mas basta ler a Hola para perceber que Marbella ainda é pior.

Clara Ferreira Alves também se lamentou n’Pluma Caprichosa (eu leio o Espresso emprestado…) de ter ido para o Algarve com argumentos deste tipo. Parece que toda a gente, incluindo insuspeitos como o JPP, tem que colocar uma tabuleta a dizer “Eu não vou para o Algarve”. É também um posicionamento, uma atitude política, uma afirmação de diferença que é totalmente desnecessária em gente superior.

Olhe, eu vou para o Algarve; para o meu Algarve que eu faço à minha maneira e que é lindo, solarengo, com mar morno, com saladas de tomate, pepino e coentros, conquilhas e vinho branco gelado. E não digo a ninguém.

Helena Mota (Porto)
*

Uma das coisas que recebo por dia no correio é uma citação bíblica enviada por um grupo evangélico brasileiro. A de hoje é apropriada a tudo:
21 - E o SENHOR ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite.
22 - Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite.

(Êxodo. Capítulo 13)

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© José Pacheco Pereira
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