ABRUPTO

18.8.06


COISAS DA SÁBADO:

QUEM “GANHOU” A GUERRA ENTRE ISRAEL E O HEZBOLLAH?

É cedo para se saber, mas Israel é o melhor candidato para uma resposta positiva. E no entanto… vai tudo depender do modo como for aplicada a resolução da ONU, em particular do modo como for constituída a força internacional que controlará o sul do Líbano e o modo como esta actuará. E o dilema é bastante simples: ou essa força impede os ataques contra o território de Israel e favorece um diálogo para a paz, enfraquecendo a actuação dos grupos que pretendem exterminar Israel, ou constituirá um falhanço da ONU e da “comunidade internacional”. Tudo indica que poderá verificar-se a segunda hipótese, o que levará Israel à guerra de novo, mas há sérias razões para dar uma última oportunidade a um maior envolvimento internacional, em particular europeu.

Se a França for o principal país a assumir as responsabilidades de segurança no Sul do Líbano, na base do mandato da ONU, pode ser uma rara oportunidade para a França (e por interposta França para a UE) assumir um papel positivo na região, onde só tem tido um papel muito negativo, em particular pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano. Mas convém não ter ilusões, o mandato das tropas da ONU só será eficaz se estas estiverem dispostas a actuar militarmente contra quem tomar a iniciativa de violar o cessar-fogo, e isso vai significar agir contra o Hezbollah. Em bom rigor, também significaria agir contra Israel, mas parece-me pouco provável que o problema seja essa, pelo menos em teoria. Na prática, situações complexas podem surgir, em particular porque Israel aceita a resolução com ressalva do direito de resposta, o que significa uma ainda maior responsabilidade para a força de interposição, que pode vir a ser apanhada entre dois fogos. Mas a política e a acção militar no Médio Oriente não é para meninos de coro, pelo que se espera que quem se mete, saiba no que se mete.

A força militar, cuja presença no Sul do Líbano é que dá consistência à resolução da ONU, terá também a difícil tarefa de impedir que o Hezbollah actue nessa zona como um grupo armado, ou seja, que se comporte como uma milícia que não responde ao governo libanês e que desenvolve actividades bélicas por conta de outrém, seja ofensivas, seja preparatórias da ofensiva. A experiência mostrou que no passado o Hezbollah debaixo dos olhos da ONU, em violação das suas resoluções e à revelia de qualquer autoridade soberana nacional do governo libanês, foi construindo uma infra-estrutura militar, centros de comando, rampas de lançamento, túneis, bunkers, toda a parafernália que lhe permitiu defrontar Israel no actual conflito e que levou uma destruição considerável do tecido urbano desde Beirute para o sul.

Se Israel permitir que diante dos seus olhos, a força de interposição faça de conta que estas actividades militares do Hezbollah não são de sua responsabilidade evitar, então esta guerra foi inútil e Israel perdeu-a. Ao aceitar a resolução da ONU, Israel jogou em factores que têm considerável imprevisibilidade, mas têm também uma lógica de futuro. Tinha de facto sentido neste momento dar à comunidade internacional, eufemismo para uma parte da União Europeia, uma oportunidade de se envolver nos conflitos do Médio Oriente, nem que seja para ter uma prova de vida e receber um banho de realidade. Não é mal jogado, porque isso pode levar ao isolamento do Irão e da Síria, e do seu grupo armado, o Hezbollah, ao aumentar o número de participantes activos no conflito que inevitavelmente entrarão em conflito com os grupos terroristas. Mas nem por isso deixa de ter elementos de jogo, risco.

Vamos pois adiar a resposta à pergunta de quem “ganhou”. Tem sentido a pergunta? Claro que tem, não se anda a morrer e a matar para ficar na mesma ou pior, e isso é válido tanto para Israel como para o Hezbollah. Ambos pagaram um preço pela situação actual, que não é a mesmade antes da guerra. Vamos pois esperar para ver e deixemos para os propagandistas os gritos de vitória já.

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(Sem acentos) Quando se fala de Israel, e da sua continua luta pela sobrevivencia, estas intervencoes nao sao guerras mas sim batalhas, cujo fim esta longe de qualquer solucao. Como se diz por ai, Israel tem neste momento a populacao simbolica de 6 milhoes de habitantes, dos quias 2 milhoes sao Arabes. Este facto nao tem passado despercebido na comunicacao social do Medio Oriente, habitualmente de forma "ironica". Falr da relacao Israel/Europa implica remoer 2,000 anos de historia e fazer uma profunda analise dos ultimos 150 anos que levaram a criacao do Estado de Israel. A actual Russia, nessa altura Uniao Sovietica e primeiro estado a reconhecer Israel, tera um papel fulcral como teve nos acontecimentos que levaram a criacao desse mesmo estado. Espanta-me (ou talvez nao) a violencia com que grupos de bem pensantes, tanto criticam Israel, mas nao questionam sequer a criacao, pelos seus termos tambem arbitraria de tantos outros paises desde 1947. As proprias fronteiras de paises vizinhos podem ser alvo de questionamento assim como a criacao do Bangladesh, do Pakistao, enfim de tantos outros "estados" recortados pelos diferentes poderes colonialistas. Porque esta anonimosidade perante Israel? Continuo a nao questionar que e uma nva forma de anti semitismo.
A tragedia disto tudo e que mais uma vez, os judeus se encontram num novo ghetto, rodeados de hostilidade e obrigados a construirem muros para proteccao. Um pouco como acontecia em partes da Europa. E nao acredito na completa e perpetua seguranca da Diaspora Americana.

Quanto a Voltaire, assumido anti semita, escrevendo o seu play "Mahomed ou le Fanatism", embora o seu alvo directo nao fosse o Islamismo, mas sim o Cristianismo nas suas formas fanaticas, nao deixa de falar umas quantas verdades.
Reitero, o Islao nao e uma religiao de paz e embora algumas faccoes refiram a "jihad", como o luta interna que todos nos travamos, nao e essa a interpretacao que actualmente e geralmente lhe e dada.

Mas sem me alongar e voltando ao inicio, esta foi senao uma menor batalha, numa continua guerra pelo exterminio do povo judeu, cuja presenca no Medio Oriente tem tanta logica como qualquer a de qualquer outro grupo semita.Ou seja toda a logica!

Manuela Mage, Denver, CO

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Parece-me bem que Vasco Pulido Valente tem razão ao considerar que foi o Hezbollah.
Volta tudo à estaca zero, ou seja, à situação anterior ao rapto dos soldados israelitas pelo Hezbollah. Com a diferença do enorme prestígio que o Hezbollah ganhou, e a prova da ineficácia da estratégia militar de Israel – os seus tanques serão bons contra outros tanques ou contra a intifada civil, mas “patos” para tiro ao alvo dos mísseis teleguiados guardáveis numa caixinha e disparáveis por 2 militantes à civil de um pequeno espaço num edifício em ruínas. E os ataques aéreos de precisão parecem não funcionar contra uma organização que sabe estruturar-se na clandestinidade e que conhece os princípios do movimento entre populações como “peixe na água”. E mais ainda, contra uma organização que sabe, pela primeira vez entre os islamitas radicais, usar a TV e dar uma imagem de moderação e aparente gosto pela paz que acerta em cheio no gosto dos expectadores ocidentais.
Parece-me, com efeito, que Israel encontrou o seu Ho Chi Minh!
A longo prazo, no entanto, a solução não deixará de envolver os europeus na guerra em curso, o que talvez suscite mais ataques da Al Queda no local ou na Europa, e com isso se vá desesperando mais os eleitorados europeus, predispondo-os para uma maior intransigência.
Tudo isto, entretanto, evoca a memória de que as cruzadas duraram duzentos anos e que por este caminho esta procissão ainda vai no adro...

(Pinto de Sá)

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© José Pacheco Pereira
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