ABRUPTO

31.5.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE (2ª série)


Em relação ao assunto "Estatuto da Carreira Docente", vou ficando preocupado à medida que não vejo surgirem reacções de intensidade análogas aquelas que se têm verificado sempre que estão em jogo questões remuneratórias. A ser assim, adensam-se as nuvens sobre a classe. Será que estamos nos carris de uma linha denominada "desde que paguem interessa pouco aquilo que faremos"?

(H. Martins)
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Espanta-me que se acredite que exista um "lobby de cientistas da educação"...essa denominação nem sequer tem razão de ser! Quando eu era imberbe e loira discutia-se a "unidade versus pluralidade da Psicologia", por culpa do sr. Lagache e das suas ambições de chegar a uma ciência unitária ou de a destruir. Ficou tudo pelo saudável sabor da argumentação.

Já as ditas ciências da educação ou, mais pragmaticamente, os supostos cujos das ditas,... estas/estes, são tão heterogéneos que jamais se uniriam ao ponto de poder criar um grupo de pressão, nem sequer de opinião, quanto mais.... (...)

Agora falar de lobbies? Por favor, meus senhores! Antes existissem, e certamente não seriam da parte das "ciências" da educação. Falta aos professores/investigadores portugueses a cultura da política profissional, à semelhança do que se observa em outros países (vide USA, UK). Continuam demasiado agarrados aos botões e aos tostões para se poderem organizar para além do que concerne à sua pré no final do mês e cultivam a mentalidade sindicalista, pré-movimentos culturais ou de interesses. (...)

Afinal toda a gente sabe de educação, toda a gente (tal como no futebol) se acha conhecedor de quais os remédios milagrosos para tornar os portugueses os mais educados e formados da Europa senão do Mundo e que, só por acaso, são sempre diferentes daqueles que são implementados por seja qual for a força política - oh má sorte, oh fado! Deve ser por má fado que estamos atrás de todos os países recém-chegados à União.

Se os directamente implicados na educação fossem avaliados (não pelos encarregados de educação, valha-nos todos os deuses do olimpo,...esses também teriam que o ser, e a bola de neve não mais acabaria) como qualquer outro profissional do sector empresarial não público, obviamente, talvez as coisas não acontecessem com tanto prejuízo para os seus destinatários.

Irrita-me que sempre que se fala de educação se esqueça quem são os verdadeiros alvos desse sistema pouco eficaz ou sub-avaliado: ou se idolatram as criaturas imbecis e irritantes que mereciam umas boas palmadas dos seus progenitores antes de chegarem à escola ou se vitimizam os pobres meninos cujo destino fica hipotecado pela inépcia da Escola. Que tal uma visão mais realista? Os "pirralhos" são fruto das contingências que lhes oferecemos, sem negar as influências biológicas.

A Escola é apenas e só (e isto singularizando as múltiplas influências que exerce) um dos lugares onde todos temos que passar 9, 12, 16, 18 ou mais anos...é uma vida dentro de uma vida - e se formos honestos todos nos lembramos disso com mais prazer do que desprazer; não é apenas o lugar central, metafórico, das disputas ideológicamente vazias com que todas as forças (fraquezas) políticas deste país resolvem fazer festinhas de faz-de-conta. (...) Estou irritada, sim. Ainda me consigo irritar ao fim de tantos anos de viver aqui - para mim, é sinal de saúde mental. Mal seria se deixasse de rabiar.

Ser profissional no campo da educação não é igual a ser profissional na fabricação do vidro ou na colocação de tijolos - todos sabemos -, mas pode e deve ser avaliado com o mesmo nível de exigência. Não será pela contagem do número de tijolos ou pela qualidade do vidro produzido, mas há muito de cristal na avaliação da educação...exige pureza e quebra-se facilmente.

Tal como sempre achei que os "funcionários" do Governo - ministros, secretários e sub-secretários...para não falar nos directores gerais e sub-directores das empresas públicas -devem ser avaliados, também defendo que todos os outros profissionais o sejam e que daí decorram benefícios ou punições, em função do seu desempenho. Mas se a impunidade vigora a alto-nível como implementar a justiça na base da pirâmide?...enfim...

O problema está em "o que" avaliar , "como" avaliar e por "quem" avaliar. O que é ser um "bom professor", se estes nem sabem ao certo o que é suposto fazer para o ser, e nem quem os manda sabe o que eles devem ser capazes de fazer?...se a avaliação incidisse nas taxas de sucesso (como no plano Roberto Carneiro), era ver a ignorância deste país certificada....Como desempenhar bem a tarefa de docência se esta vai muito para além da mesma e entra muito mais no trabalho maternage/paternage, de secretaria, ou investigação e divulgação (consoante os níveis de ensino)? Então em que moldes o fazer, com que critérios?... E quem tem a competência para avaliar?

Alguém acredita que o caminho da recuperação formativa se faz assombrando e (eventualmente) punindo quem trabalha na área que verdadeiramente faz a diferença face aos novos países da UE? Desiludam-se, ainda nem começou a competição e já estamos atrás.
Que alguma coisa deve ser feita, não tenho dúvidas, mas de que maneira?

Abram a caixinha, mas a Pandora vai fazer muitas vítimas e espero que as primeiras sejam aquelas que resolveram libertar a "bicha".Mas infelizmente sei que não, quem paga são todos "os outros". (...)

(N.M.)
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Devo, antes de comentar qualquer aspecto relacionado com a proposta ministerial de alteração do ECD, fazer a minha declaração de interesses: Sou professor do 2º Ciclo do Ensino Básico, com 28 anos de serviço e como tal estou no 10º escalão, usufruindo de uma redução da componente lectiva de 8 horas. Como é fácil perceber, estou no topo da carreira e as alterações agora propostas não me afectam em termos de progressão.

Quero no entanto chamar a atenção para o facto de que a ministra se prepara para cumprir a missão para a qual foi nomeada, quando aceitou a pasta da Educação: o objectivo fundamental desta proposta é garantir um congelamento estatutário da progressão na carreira, para o maior número possível de professores. Tudo o resto que se encontra na proposta, do ponto de vista da missão desta ministra, pouco mais é do que folclore, e não me custa a admitir que em sede de negociação, matérias como a avaliação dos professores pelos encarregados de educação, ou outras semelhantes, venham a ser "oferecidas" numa bandeja aos sindicatos.

Porque o essencial é que fique garantido que nos próximos quinze/vinte anos, nenhum dos professores que hoje ainda não se encontra no 9º ou 10º escalão, possa vir a atingir o acesso à categoria de professor titular, e com isso garantir que apenas os actuais professores desses dois escalões atinjam o topo da carreira. Isso na prática irá significar uma estagnação na progressão ao fim de 18 anos para a esmagadora maioria dos actuais e futuros professores, garantindo uma enorme contenção orçamental.

Porque ao contrário do que se apregoa, as preocupações da ministra com a qualidade do ensino, apenas aparecem no discurso porque a central de comunicações do ME acha que isso faz boa imprensa. Senão, como se explicaria que a ministra, tendo identificado como males do sistema as turmas da manhã feitas para os melhores alunos, onde são colocados os filhos de alunos e funcionários, e escolas que se organizam em função de critérios burocrático/administrativos em vez de se preocuparem com o sucesso educativo, não seja consequente com essa avaliação, e não actue sobre os Conselhos Executivos, que são o órgão de gestão que tem a competência de definir projecto educativo e o projecto curricular da escola, o seu regime de funcionamento , organizar as turmas e distribuir o serviço docente.

Cada vez que a ministra e os seus secretários de estado se atiram aos professores, acusando-nos dos males do ensino, fazem-no identificando tarefas e competências mal cumpridas ou negligenciadas pelos Conselhos Executivos. E no entanto não há notícia, mais de um ano após a sua tomada de posse, de qualquer medida correctiva destas más práticas, não dos professores, mas dos órgãos de gestão dos estabelecimentos de ensino.

(Francisco Santos)
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Não posso deixar de exprimir a minha mais profunda revolta e tristeza pela forma como têm sido os professores tratados. Hoje perante as primeiras páginas dos jornais não posso deixar de sentir revolta. Não vou comentar a necessidade de revisão nem esta revisão. Quero apenas expressar que considero indigno a forma como estrategicamente estas noticias aparecem na comunicação social.

Penso não ter espírito de perseguição. Poderei estar enganado, mas sempre que querem "apertar o papo" aos prof´s a ministra parte para uma "peixeirada" pública que muito diz dos políticos que temos. Sei que não é politicamente correcto dize-lo. Que normalmente isto é dito apenas por "gentinha", mas temos uma ministra que nitidamente não se sabe comportar e temos todos os outros a assistir e a aplaudir. Fala alto, aos berros e tem medo que não lhe obedeçam. Necessita da coação pública. Necessita de denegrir os seus funcionários perante a opinião pública, perante pais e alunos. Como enfrentarão, os professores, amanhã os seus alunos?

Não resisto a fazer um comentário ao estatuto da carreira docente proposto: não promove quem merece. coloca à partida docentes no topo da carreira a avaliar outros possivelmente (quase certo) com mais formação. Teremos Bacharéis a avaliar pessoas doutoradas. Será razoável?

(Carlos Brás)
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Tinha que ser a pedagogia - com p pequeno - a fazer-me intervir num blog. Apenas para aplaudir a intervenção dos seus co-bloguistas Gabriel Mithá Ribeiro e Joaquim Albano Ferreira Duarte. Morra a pedagogia, morra Pim - com P grande.

(Paulo Freitas)
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-Como eventual título da secção "funções e tarefas" de um docente, colocaria : MAIS NADA?

-Quanto á secção final (art.111,ponto 2), a coisa parece-me tão GRAVE (principalmente no que se lê implícitamente), que não tenho palavras para quaisquer títulos, pois comecei a sentir algo dentro de mim que me censura a minha humilde inspiração.

(J. A. )

( Professor que está seriamente a pensar em pedir asilo politico a Espanha ou a qualquer outro país, onde me possa ser apenas 1 cidadão que não se sinta a sofucar, dia pra dia ).

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© José Pacheco Pereira
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