ABRUPTO

1.5.06


MUDANÇAS VISTAS DE BUDAPESTE E PÉCS

Quem conheceu a Europa do Centro e do Leste nos anos terminais do sistema soviético, apercebe-se de imediato do enorme salto em frente que vários países deram com o fim das ditaduras do partido comunista. Os processos de transição não são idênticos mas há casos onde se foi mais longe e o rastro físico do comunismo começa a desvanecer-se. Se tudo correr bem, a próxima geração já verá o comunismo como arqueologia. Tudo indica que será o caso da Hungria.

Talvez isso se deva ao facto de os húngaros terem pago muito caro, mais caro que os outros países subjugados pela URSS. A revolta húngara de 1956 foi a mais importante de todas as tentativas de libertação, paga com muito mais sangue derramado que as revoltas alemãs, polacas e checas.

Mas a revolta húngara ficou isolada num tempo em que a crise do comunismo ainda não era evidente para muita da ”esquerda”, mesmo a não-comunista e continuavam as ilusões sobre o “socialismo real”. Basta comparar o impacto da invasão húngara, e dos eventos sangrentos a que deu origem, e o da invasão da Checoslováquia, menos violenta nas suas consequências, mas com um muito maior impacto político, para se perceber a diferença. A reacção popular, das ruas, nas principais capitais das democracias europeias não foi muito distinta, foi mesmo equivalente á dimensão dos acontecimentos. A diferença esteve nos intelectuais e na “esquerda” que se sentiu mais livre de se indignar com a Checoslováquia do que com a Hungria. Não foi por razões muito gloriosas, mas porque lhe era mais aceitável um comunista que se considerava reformista como Dubcek, e uma “Primavera” que se apresentava como de “esquerda”, do que uma revolução claramente anticomunista e nacionalista, que envolvia a Igreja católica.

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© José Pacheco Pereira
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