ABRUPTO

5.4.06


A PROVA DOS BLOGUES: AGUSTINA LIDA PELOS LEITORES DO ABRUPTO



Confesso que hesito entre considerar o texto de Agustina Bessa Luis como um exercício literário de base histórica, ou um texto histórico com aspirações literárias. Em todo o caso, lidos alguns comentários de leitores atentos do Abrupto (...), julgo conveniente esclarecer algo relacionado com a seguinte passagem:

«Em primeiro lugar, facto que não se pode desdizer nem ocultar, D. Afonso nasceu estropiado. Era uma criança formosa e bem constituída, mas sofria duma anomalia, hoje operável, mas que no tempo era absolutamente incurável. Tinha as pernas coladas a partir dos joelhos, o que o tornava incapaz para o exercício das armas e montar a cavalo. Chegado aos cinco anos, esgotados decerto todos os tratamentos, aquele que reivindicara o lugar do seu aio, Egas Moniz, teve como solução encomendar a criança à protecção do Céu. No que foi atendido de maneira miraculosa. O menino apareceu escorreito e disposto a uma vida de agitação e conquista. A criança raquítica, embora bela e prendada de muitas graças, deu lugar a um guerreiro como não houve outro na nossa História. Dá para pensar que Egas Moniz o fez substituir por um dos seus próprios filhos ou filho dalgum rico-homem de pendão e caldeira, como se dizia.»

Esta informação aparece, pela primeira vez, num texto do início do Século XV, a chamada "Crónica de Portugal de 1419", que há quem atribua a Fernão Lopes. Usando uma linguagem actual, tal crónica, como qualquer outra deste período, é mais «literária» do que «histórica», facto que, acrescentado à época tardia em que foi redigida, dissipa quaisquer dúvidas quanto à historicidade do milagre. De resto, nas crónicas mais antigas, o aio de Afonso Henriques é Soeiro Mendes (possivelmente o da Maia), e não Egas Moniz, o que, também por si, coloca entraves a algumas interpretações ou hipóteses de Agustina - hipóteses e interpretações, de resto, tradicionais.

(Filipe Alves Moreira)

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Alertar a Sr.ª Dª Agustina Bessa Luís que o texto contém um erro:


… Data em que D. Afonso Henriques entra a fazer-lhe guerra, teria ele vinte e dois anos. E, se nascido em 1106, trinta e quatro anos, o que parece pouco de acreditar. D. Teresa parece apaixonada e decidida a casar com o conde D. Fernando de Trastâmara, o que precipita a discórdia entre mãe e filho…

De facto se nascido em 1106, 22 anos (em 1128). Se nascido em 1094, 34 anos…(em 1128).

(Francisco Marques)

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Parece-me criticável a utilização pela autora do termo "Espanha", associado por toda a gente ao actual estado politico espanhol, numa altura em que este estado ainda estava muito longe de existir. Poderá dizer-me que nessa altura era esse o nome dado à península ibérica, o que é verdade. Contudo, este texto foi escrito no século XXI para leitores do século XXI, a esmagadora maioria dos quais (eu diria 99%), quando ler "Espanha" vai achar que se está a referir ao estado espanhol que, julgaram eles, já então existiria.

(Henrique Oliveira)

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