ABRUPTO

31.3.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:INTERIORIDADES

No DN, Francisco Sarsfield Cabral escreve:

"Para que servem, então, as auto-estradas, incluindo as que não têm portagem e supostamente deveriam estimular o desenvolvimento do interior? Servem sobretudo para as pessoas que vivem no litoral, numa faixa entre Viana do Castelo e Setúbal, irem passar fins-de-semana e férias "à terra" ou às residências secundárias que entretanto adquiriram. A vida no interior do País é cada vez mais sazonal."

Isto absolutamente insultuoso.

As auto-estradas e não só (as IP também) permitiram que nós que cá estejamos não estejamos num buraco. Há necessidade de algo que não existe? Vai-se numa manhã ao Porto, vai-se reunir com uma empresa, assistir a um congresso, ter uma reunião. Dantes? 4 horas para ir de Vila Real ao Porto (100 km)? Ia-se para passar o dia, talvez dormir, caso a reunião fosse tarde. Era preferível não trabalhar com o Porto, muitas vezes. A economia ficava retida numa ilha de terra no interior do país. É verdade que o interior ainda não se desenvolveu suficientemente. Mas muito mudou para quem cá vive. Há opções, há qualidade de vida efectiva. Em 1997, ano em que me mudei para Vila Real, não consegui fazer cá compras de Natal: só havia lojas caríssimas ou lojas paradas no tempo. Hoje? Nem me lembro de quando fui fazer compras ao Porto. Vou lá, sim, para trabalhar, sem qualquer problema, pois demoro apenas uma hora de carro e hora e meia de autocarro. E desde este ano, estou a menos de uma hora de Viseu, não duas horas ou mais por estradas horríveis. Será assim tão difícil ver o que isto implica no aumento do mercado potencial para as empresas locais? No aumento de oportunidades de emprego, por ampliação da área de acção das próprias famílias?
A visão do interior dada por FSC é, no mínimo, ignorância crassa. No máximo, um conluio para o abandono total de parte do país.

(Leonel Morgado)
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Discordo do Senhor Leonel Morgado, quando diz que “A visão dado por FSC [Francisco Sarsfield Cabral] é, no mínimo, ignorância crassa”.

“Para que servem, então, as auto-estradas…”? Eu diria para coisa nenhuma. Que Lisboa e Porto estejam ligados por auto-estradas, compreende-se; já menos se alcança que esses corredores da morte esventrem o país de uma ponta à outra. Portugal não é a França ou a Bélgica, países que, pela sua situação geográfica, são diariamente atravessados pelos mais diversos caudais de trânsito. Ora, como é sabido, quem vem a Portugal não passa do Cabo da Roca…

Embora não renda votos (o voto é quem mais ordena!..), quer pelos baixos custos, quer pela menor perigosidade, uma boa estrada é sempre preferível a uma auto-estrada.

À proliferação de estradas e caminhos-de-ferro encetada por Fontes Pereira de Melo, já Oliveira Martins advertia: “Cuidado, a estrada serve para a riqueza circular; é preciso criar a riqueza para circular na estrada”.

As objectivas crónicas que o Sarsfield Cabral nos oferece no DN, são um saudável abanão que pretende acordar-nos de um sono profundo, e que teima em arrastar-nos para um cada vez mais perigoso plano inclinado…

(Aníbal Caldas)

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© José Pacheco Pereira
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