ABRUPTO

19.3.06


NUNCA É TARDE PARA APRENDER

Uma das operações mais célebres da guerrilha cretense sob comando britânico foi o rapto e envio para o Cairo do General Kreipe, o comandante das forças alemãs em Creta. Quando o General prisioneiro subia o Monte Ida e observou a enorme beleza do lugar, disse alto o verso da ode de Horácio: “Vides ut alta stet nive candidum/ Soracte” ("Vejam como resplandece no meio da funda neve / Soracte."), para ouvir logo a seguir

"... nec iam sustineant onus
silvae laborantes geluque
fluminaque constiterint acuto.
Dissolve frigus ligna super foco
large reponens atque benignius
deprome quadrimium Sabina,
o Thaliarche, merum diota."

O homem que completara o poema era Patrick Leigh Fermor, um dos comandantes operacionais britânicos do SOE que chefiava as operações militares na ilha, habitualmente vestido de pastor. Este mundo já acabou.

*
A propósito desta história, não sei se já leu o relato dela feito pelo companheiro inglês (os outros eram guerrilheiros cretenses) de Patrick Leigh-Fermor na operação, W. Stanley Moss. O livro chama-se Ill Met by Moonlight e lê-se como um romance (há também um filme, com Dirk Bogarde, mas nunca o vi). Num registo completamente diferente, vale a pena ler um livro do próprio Patrick Leigh-Fermor, chamado A Time of Gifts, que é o relato da sua viagem a pé, aos 17 anos (dezassete!), desde a Holanda a Constantinopla. (O extraordinário não é especialmente um miúdo de 17 anos pôr-se à estrada sozinho numa viagem daquelas; são as razões que, aos 17 anos, o levaram a fazê-lo, e a subtileza e a erudição do que escreveu depois). Se é verdade que este mundo já acabou, gente desta nem se fala.

(Frederico Pinheiro de Melo)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]