ABRUPTO

27.1.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
SOBRE "A LENTA DISSOLUÇÃO DOS PARTIDOS"




Achei muito interessante o artigo que escreveu no Público e que publica no seu blogue a propósito da lenta dissolução dos partidos. Trata-se de uma perspectiva em que nunca tinha pensado e que analisada com atenção faz de facto um certo sentido. Julgo que há também alguns factores que contribuiem para o cenário que descreve:

1. A complexificação da governação, hoje em dia o poder efectivo do governo é de certa forma pulverizado devido à dinâmica complexa e descentralizada do Estado.

2. A distinção entre classes sociais torna-se cada vez mais simbólica do que material fruto do progresso económico.

3. Cada vez menos a nossa sociedade se vêm confrontanto com grandes causas definidas e fracturantes. Não temos guerra, não somos completamente pobres nem totalmente ricos. Existem micro-causas que por definição se circunscrevem a minorias.

4. Por efeito da globalização e da inserção no espaço mundial o poder individual de cada cidadão é cada vez menor.

Se calhar daqui a alguns anos os partidos politicos nacionais tornar-se-ão em partidos transacionais centrados sobretudo em questões de geoestratégia e do ambiente.

(António Filipe Fonseca)

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Ao ler o seu post "A lenta dissolução dos partidos" não pude, numa primeira análise, deixar de constactar a sua convicção na ausência ou, pelo menos, fraca presença do antipartidarismo e antiparlamentarismo, bem como do pensamento ideológico radical. Mais, que considera os dois "antis" como ditactoriais!

1º - Não vejo a razão, o fundamento, para o "passado da ditadura". De facto, podemos encontrar o antipartidarismo e parlamentarismo históricamente na ditadura (falando de Portugal). Contudo, não me parece saudável considera-los como seus filhos ou mesmo pensamentos exclusivos.
Da mesma forma que é de todo errado afirmar que os partidos são essênciais ao funcionamento da democracia. O senhor sabe bem que não o são... muito pelo contrário!

2º - O radicalismo... o radicalismo encerra em si uma vontade própria, insubstituivel e em qualquer outra parte inexistente, de ser fiel.
Porque se por um lado a relactividade não é bem o que parece, por outro a objectividade (entendamos dogmatismo) é bastante mal rotulada.
Dizer-se, ainda que implicitamente, que o radicalismo é fundamentalista, é tão errado quanto a interpretação e aplicação actuais da última expressão. Ser radical é ser fiel à raiz de um pensamento estruturador da vida social, económica, afectiva, etc... como a própria palavra indica!

3º - Como estudante de Comunicação Social, não posso deixar de concordar consigo ao antever a situação mediática que dá já hoje sinais. Este 4º poder que emerge mais e mais, transversal a todos os outros, depende e faz depender: depende do produto informartivo, ao mesmo tempo que o gera pela pressão que exerce devido aos meios de que dispõe. É quem os controla, aos meios e ao jogo de poder que estes potenciam, que verdadeiramente exerce autoridade. Como diz Harold Innis, "todo o império, toda a sociedade, que pretende uma certa perenidade deve realizar um equilibrio entre um media que favorece o controlo do espaço e outro que assegura a sua reprodução no tempo". E o poder que o novo paradigma multimédia tem em distorcer estas duas noções, a temporal e a espacial, cria no ciberespaço e nas possibilidades do hipertexo uma fuga a esse equilibrio forçado e com objectivos pré-definidos, numa democracia incomparavelmente participativa, construida pelos próprios, inventada a cada segundo, na fuga da capitalização da informação. Quem precisará dos partidos como estrutura que dá voz a um pensamento comum, quando poderemos individualmente (se a info-exclusão de Castells não for demasiado elevada) criar a nossa ideologia, num liberalismo de ideias desmedido, quem sabe acompanhado pelo economico (ainda que paradoxalmente)? Um liberalismo ideológico dependente da abstracta "consciência colectiva" e do sucesso da "juventudo metropolitana" que idealizou o futuro da rede.

(Simão dos Reis Agostinho)

*

O futuro dos partidos tradicionais é muito facil de antever visto que as similitudes entre Portugal e a Itália não se resumem ao''25 de Abril''.A grande diferença é ao nível da velocidade do processo politico que no nosso caso está mais rápido (fruto da sociedade de informação em que estamos inseridos).Nós tivemos menos anos de governos breves mas tambem eles acabaram por chegar aos governos de legislatura, agora será a nossa tendencia para chegar aos partidos como os que hoje disputam o poder em Itália (Oliveira ;Força Italia )no fundo movimentos de ''cidadania''(ou de cidadão!!)que pouco ou nada já têm a ver com os velhos partidos tradicionais que durante anos nos habituámos a ver a disputar as eleições em Itália.É só uma questão de tempo.As analogias entre os dois países são maiores do que o que parece.'' A ver vamos''.

(Alberto Andrade)

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