ABRUPTO

12.12.05


QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO:
6. ELES NÃO O ESPERAVAM (REPIN)



Este é um dos quadros que perde com a reprodução, embora não seja o tamanho que aqui conte, mas a intensidade dramática das faces, a complexidade visual da cena. O viajante inesperado é um deportado que regressa de surpresa. Lembrei-me do Frei Luís de Sousa, embora aqui se saiba que ele está vivo, só não se sabe quando volta ou se volta.

A referência religiosa a Cristo está patente na face do recém-chegado, pai, filho, neto, menino, que suscita todas as reacções: alegria, emoção, espanto, curiosidade. Naquela sala está a casa toda, do rapaz e da rapariga que estudam, ao cozinheiro que espreita. Percebe-se que é uma casa burguesa, simples. O Cristo impresso na face do deportado é o mesmo do quadro de Kramskoy (o terceiro desta série). É Cristo, símbolo do sofrimento do povo russo.
Na parede estão os retratos de dois poetas narodnik, Chevtchenko e Nekrassov, pelo que podemos perceber as simpatias políticas da família, ligada aos populistas, o grande movimento revolucionário anterior aos socialistas-revolucionários e aos bolchevistas.

Repin nunca ficou satisfeito com este quadro.

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© José Pacheco Pereira
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