ABRUPTO

2.12.05


LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(2 de Dezembro)


Os filósofos não precisam de demonstrar a complexidade do mundo com palavras alemãs compósitas. A complexidade do mundo está dentro de cada jornal, num humilde encarte que convém não deitar fora. É o catálogo da D-Mail. Há de tudo para todos. Os blogues literatos em vez da andarem com grandes citações deviam por os olhos na simplicidade narrativa destes folhetos, cada frase um verdadeiro tratado sociológico, cada frase um genuíno programa de vida para todos os animais de Deus, incluindo os humanos e os telemóveis. Para os gatos: "o seu gato nunca lhe perdoará se não encomendar isto!", ou seja , "uma confortável plataforma em tecido de tipo "pele de carneiro". O gato que há em todos nós, está presente nesta "almofada de pelúcia macia", com "uma vibração emitida por um mecanismo interno". Terá que comprar as pilhas, lembra o catálogo.




Como o objecto que mais ama merece uma consideração especial, não se esqueça da "mini-poltrona "dálmata" para telemóvel", onde ele pode ficar "bem instalado". Assim mesmo. Como o gato, como os pés. Mas o clímax, apropriado nome, são os "aventais sexy homem/senhora", "um divertidíssimo conjunto de aventais com peitilho para ele e para ela", maravilhosa solução para "jantares e serões com amigos [que] vão ser especialmente picantes e diferentes". O que é que eu faço quando alguém me aparecer assim? Fujo desvairado, fico de pedra e cal, já não quero sair dali, escrevo à Miss Manners para saber qual a etiqueta apropriada?

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Um bom exemplo dos mecanismos de excesso/esquecimento mediático encontra-se no eclipse da ribalta da gripe das aves . Acabou? Na imensa China progride, passo a passo, a darwiniana luta entre o vírus e a vacina. Como não tem novidade, não se fala. Bom, fala-se no New York Times.

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Miguel Sousa Tavares no "desligado" Público:

"Mas há pior e bem mais grave. Eu, por exemplo, parto do princípio, hoje como no tempo da PIDE, de que o meu telefone está sob escuta. Não porque seja suspeito de qualquer crime ou tenha qualquer lição de ética a receber da polícia ou do Ministério Público. Mas apenas porque eu, pelo meu lado, suspeito que o que era fatal que acontecesse qualquer dia está a acontecer: as escutas tornaram-se também um instrumento político nas mãos das corporações judiciais. Escutam-se não apenas os suspeitos de crimes, mas também os políticos que podem contrariar as posições e interesses dos magistrados, os jornalistas que os podem comprometer, os fazedores de opinião que os possam contradizer. Se dúvidas houvesse, o recente episódio em que escutas telefónicas feitas a dirigentes do PS e do PP, e cujo tema era a demissão do procurador-geral da República, foram feitas, prosseguidas, transcritas, arquivadas em processo (como se de crime se tratasse!), e posteriormente enviadas para publicação num jornal, são a prova cabal do uso da devassa telefónica como arma de chantagem política."

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© José Pacheco Pereira
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