ABRUPTO

29.12.05


BOAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR
(alfa - ACTUALIZADO)



NOTA (versão alfa) - Só o embrião das entradas, sem nenhuma ordem valorativa, esperando completá-las, acrescentá-las e corrigi-las, com as sugestões dos leitores. Como só cito o que "consumi", a rádio, que pouco ouvi, está em falta.

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Documentários culturais (2:) entre outros sobre Luis Pacheco, Glicínia Quartim, João Vieira, Fernanda Botelho, etc.

Micro-causas (declaração de interesses: o Abrupto foi o iniciador, mas hoje pertencem a todos.) - A questão dos “estudos da OTA” que se tornou a segunda questão mais determinante do debate público sobre a OTA (a primeira foi e é “faz-se ou não se faz”), deveu-se à persistência dos blogues, e não da comunicação social fora da rede, que só a assumiu quando não a podia evitar. Depois, tornou-se parte integrante do “problema OTA”.

Blogues de jornalismo, sobre jornalismo (pela segunda vez na lista das “coisas boas”) – Os blogues especializados em “comunicação” em sentido lato são o melhor conjunto de blogues com um tema específico na blogosfera portuguesa. Exemplos: Engrenagem, Indústrias Culturais, Ponto Media, Atrium, Jornalismo e Comunicação, As Imagens e Nós, Blogouve-se, etc.

Clube dos Jornalistas (2:) - (pela segunda vez na lista das “coisas boas”).

Os documentários da SIC - o melhor exemplo foi o de Cândida Pinto sobre Snu Abecassis, mas ,durante todo o ano, foram sempre as melhores reportagens jornalísticas de tipo documental, de “grande informação” ou em anexo aos noticiários.

Mário Crespo e o par João Adelino de Faria / Ana Lourenço na SIC Noticias. (declaração de interesses: participo num programa da SICN.)

Repito pela segunda vez: “A informação / opinião económica na SIC Notícias é de grande qualidade. Perez Metelo na TVI é um divulgador especializado com grandes qualidades comunicativas."

Margens de Erro de Pedro Magalhães, o “nosso” explicador das sondagens e muito mais. Um exemplo de um blogue que acrescenta.

Blogosfera nas eleições autárquicas e presidenciais: pode ter todos os defeitos da "atmosfera", mas tem também qualidades que só há na blogosfera.

Livros sobre jornalismo (pela segunda vez na lista das “coisas boas”). Repito: “A edição de livros e revistas sobre comunicação está de vento em popa. Para além da Trajectos e Media e Jornalismo, as colecções "Media e Sociedade" da Editorial Notícias e "Comunicação" da Minerva tem dado origem a trabalhos interessantes que revelam como, à distância, os estudos académicos demonstram muito daquilo que os jornalistas não querem admitir mais em cima dos acontecimentos: bias, distorções e manipulações, militância política. O papel de alguns professores, como Mário Mesquita, é fundamental nesta reflexão.”
(Em breve referirei os que me pareceram mais importantes.)

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Na sequência do convite que lançou aos leitores do Abrupto deixo aqui a minha sugestão ( considerando, naturalmente, uma declaração de interesses prévia - pertenço ao mesmo centro de investigação que os três citados):

Nas coisas boas - no sub-título "Livros sobre Jornalismo" - faltarão as colecções "Comunicação e Sociedade" (Campo das Letras/CECS-UMinho, dirigida por Moisés de Lemos Martins) e "Comunicação" (Porto Editora, dirigida por Manuel Pinto e Joaquim Fidalgo), ambas com vários títulos publicados em 2005.

(Luis António Santos do Atrium)
A ascensão da Sábado (pela segunda vez e com a mesma declaração de interesses). A Sábado é o órgão de comunicação social portuguesa mais subestimado, vítima das “sinergias” que lhe faltam: não tem quem puxe pelas suas notícias nos outros órgãos de comunicação social. Mas que tem notícias, isso tem.

A imprensa de distribuição gratuita como o Destak. Para muita gente significa mais notícias que nunca iriam encontrar, ou melhor, ler, noutro lado. Isto só pode ser considerado um acrescento na "comunicação", na cidadania.


PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005, VISTAS PELO MESMO



Descida de vendas da imprensa generalista – Entre o 24 Horas, que sobe, os jornais grátis, os blogues, e a informação em linha, a imprensa generalista cai. Para responder à queda molda-se ao que pensa dar sucesso, o “social”, o “económico”, e temo que as reestruturações em curso nos grandes jornais valorizem ainda mais a superficialidade do produto. Se for assim, é só uma questão de tempo para cair ainda mais, porque nesse terreno outros fazem melhor.

O fim da consulta grátis em linha, no Público. .

Os comentários de António Vitorino na RTP nunca acrescentam nada e são claramente limitados por uma vontade de ortodoxia, que é uma vontade de carreira política. Legítimo, mas não chega para comentar sob aquela forma e com aquele estatuto, quando não se tem mais nada para dar. Pode-se ter “mixed feelings” sobre os comentários de Marcelo, mas estes são um “facto comunicacional” impossível de passar ao lado. Podem ter (têm) agenda política, são superficiais e ligeiros, mas ultrapassam os defeitos do seu autor, pelas suas qualidades no meio. Marcelo é um Mensch comunicacional, Vitorino não é.

As primeiras páginas inventivas do Expresso (pela segunda vez.) – Agora que se sabe de quem é a responsabilidade, – de José António Saraiva, que as faz sozinho numa forma de meditação transcendental como nos disse em entrevista –, espera-se que Henrique Monteiro acabe com elas.

Tsunami – Mais um exemplo de “masturbação da dor” como sensacionalismo jornalístico, ao ritmo das grandiosas imagens das vagas do maremoto. Se não houvesse imagens tão poderosas, turistas estrangeiros e destinos de férias como Puket atingidos, o tratamento comunicacional seria o que foi dado ao terramoto paquistanês, ou seja quase nulo. Não é a dimensão da tragédia que conta, mas a sua espectacularidade.

Katrina – O contra-exemplo ao tratamento do tsunami: “inforopinião” politizada ao extremo, “masturbação da culpa” em vez de “masturbação da dor”. Números fantásticos, previsões apocalípticas, dedo apontado a Bush em cada segundo, e quase nula compaixão pelas vítimas. A cidade “destruída” lá está a funcionar, ferida, mas viva. As dezenas de milhares de mortos anunciados continuam por descobrir, mas ninguém entende que deva corrigir alguma coisa.

Arrastão – A pseudo-história mais fantástica da nossa comunicação social em 2005, que, desde o primeiro minuto, parecia a qualquer pessoa sensata, muito bizarra. Who cares? Passou do sensacionalismo, para a demonização política anti-emigrantes e racista, para depois, no backlash, se tornar demonização política anti-racista ao estilo do “SOS Racismo”, ou seja do Bloco de Esquerda. Como era uma história (falsa) que “favorecia a direita” anti-emigrantes foi desmontada e contrariada. Quantas, ao contrário, que “favorecem a esquerda”, e igualmente falsas nunca são desmontadas?

O fim da A Capital e de O Comércio do Porto.

A obscura política comunicacional governativa – O ano passado era a “central de comunicações” de Santana Lopes, este ano é a gestão mais profissionalizada, com maior colaboração silenciosa de muitos simpatizantes no meio da comunicação social, do controlo governativo. As grandes manobras da propriedade, que a montante ou a jusante, incluem sempre o beneplácito do poder político num país como o nosso tão dependente do estado, estão pouco esclarecidas. Mas quase tudo vai no mesmo sentido. Se houvesse um medidor não impressionista do “grau de incomodidade” da comunicação social face ao poder, ver-se-ia como ele baixou significativamente. Um exemplo: o modo como foi tratada a conflitualidade social, seguindo uma linha governamental, nunca nos dando a ideia da dimensão do que estava a acontecer e vista sempre numa luz hostil.

O jornalismo económico continua a depender de uma visão mais do “económico” do que do “jornalístico”. Com capacidade para produzir boa informação sobre o estado e o governo, revela-se incapaz de tratar as empresas como objecto jornalístico, mostrando pouca independência em relação aos sectores económicos e financeiros que a patrocinam. Não há verdadeiras reportagens ou notícias sobre o que corre mal.

A Antena 2 é demasiado loquaz. Muito se fala naquela rádio, num tom entre o pedante e o falsamente intímo, tirando limpidez à música.

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Madalena Oliveira no Jornalismo e Comunicação:

"Nas coisas boas, eu acrescentaria a instituição dos provedores do ouvinte e do telespectador (embora não conheçamos ainda os nomes que vão ocupar estes cargos nem o modo como funcionarão exactamente).

Para as coisas más, escolheria também, por exemplo, a ausência de discussão sobre a renovação das licenças de televisão."
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Algumas sugestões suplementares de Rodrigo Adão da Fonseca no Blue Lounge:
- Também às quartas-feiras, as colunas de Paulo Rangel no Público, leitura obrigatória mesmo para quem tem as agendas mais exigentes;

- As colunas de Vital Moreira no Público, descontando os dias em que lhe dá para ser mais Papista que o próprio PS;

- O Diário Económico, um oásis na (des)informação diária, um jornal que soube num contexto de dificuldade para a imprensa escrita ganhar o seu espaço com personalidade, afirmando um estilo próprio, em alguns aspectos inovador, resistindo ao jornalismo populista; um jornal que em 2005 conseguiu crescer e amadurecer-se, tornando uma dificuldade - a mudança de director - numa grande oportunidade para se consolidar (na minha humilde opinião, melhorando até a olhos vistos sob a alçada do Martim Avillez Figueiredo); neste momento, o meu primeiro jornal do dia (muitas vezes, quando o tempo é pouco, o único)."
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João Pedro Pereira no Engrenagem:
"Numa altura em que a leitura de jornais generalistas está em queda, não podia deixar de concordar mais com Pacheco Pereira quanto aos diários gratuitos (...) São uma espécie de versão jornalística da literatura light: até podem não ser o melhor (embora isto dependa: o melhor para quem? e para quê?) e podem ser vistos com desdém pelos restantes elementos do meio, mas têm o grande mérito de pôr gente a ler

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Sobre as coisas péssimas do jornalismo: não acredito que tenham ficado esquecidas as inúmeras peripécias jornalisticas sem rigor nem isenção nem sequer verdadeiro conhecimento do que verdadeiramente se passava e do que estava em causa, que chegavam até nós aquando dos acontecimentos urbanos em França. E a forma como Sarkozy foi cruxificado e Villepin poupado...

(J.)
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Constança Cunha e Sá na Minha Rica Casinha:
"À lista de Pacheco Pereira sobre que houve de bom e de péssimo na Comunicação Social em 2005 e lidos os contributos de Rodrigo Adão da Fonseca no Blue Lounge tenho apenas a acrescentar duas coisas, uma péssima, outra apenas má:

- A ausência de programas de informação nas televisões generalistas
- O programa de Marcelo Rebello de Sousa com Ana Sousa Dias que serve de contraponto, na RTP, aos comentários de António Vitorino.

E, já agora, uma coisa boa, embora eu seja suspeitíssima, nesta matéria - mas até por isso:

- As crónicas de Vasco Pulido Valente no Público."

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No Insurgente:
O melhor na comunicação social portuguesa em 2005: Diário Económico

De entre as várias notas positivas que o RAF acresenta à lista de coisas boas e más na comunicação social portuguesa em 2005 elaborada por JPP, não quero deixar de destacar o Diário Económico, que é de facto um verdadeiro oásis no panorama nacional. Faço votos de que 2006 seja um ano de ainda maior sucesso para o DE e de que o exemplo faça escola.

(André Azevedo Alves)

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