ABRUPTO

5.10.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
VENTO, VENTO, VENTO





De salientar em primeiro lugar que em Portugal os "parques eólicos" não são parques, no sentido que se dá à expressão noutros países europeus. São moinhos mais ou menos isolados, espalhados pela paisagem, inevitavelmente nos pontos mais altos e mais visíveis, pois são os lugares com mais vento. Se as verdadeiras florestas de moinhos que se vêem noutros países são mais ou menos feias do que estes nossos moinhos, não sei dizer.

Devo confessar que eu gosto dos moinhos, sejam eles antigos ou modernos. Se há quinhentos ou seiscentos anos existissem blogs, provavelmente alguém teria protestado contra o elevado número de moinhos de vento na peninsula ibérica, e (se os protestos tivessem êxito) o heroi de Cervantes teria que arranjar outros inimigos. Acho que daqui a cem ou duzentos anos estas "eólicas" serão consideradas muito románticas, e (quem sabe?) alguém entre nós já está a escrever um romance em que as "eólicas" têm um papel fulcral ... Não lhe apaguem o assunto da paisagem, por favor !

(Cristian Barbarosie)

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Num dos seus últimos blogues (já anteriormente se tinha referido ao assunto), lamenta a poluição paisagística provocada pela instalação dos geradores eólicos. Referiu, a propósito, o gerador colocado ao lado dos "cornos do Barroso". A localização do gerador também me chocou pois, embora lisboeta, desde adolescente que conheço (e percorri a pé) algumas das aldeias do Barroso, pelo que fiquei sentimentalmente ligado àquela região e a Trás-os-Montes em geral.

Porém, não me parece exacto que não haja ambientalistas a protestar contra a desfiguração da paisagem pelas centrais eólicas. Já li prorestos desses (não ultimamente, embora) e em que se referiam à perturbação causada pelo ruido e ao morticínio das aves apanhadas pelas pás. Bom, se estivermos dentro de um automóvel com os vidros fechados, não se houve nada. Além disso, ninguém vive no alto dos montes para que possa ouvir o o ruido. E que dizer das instalações sonoras que têm sido instaladas em quase todas as igrejas das nossas aldeias (não são os sinos!) e que em altos gritos espalham ruido por montes e vales? Quanto à morte das avezinhas, seria de esperar montes de cadáveres e de penas de aves por baixo dos geradores. Nem vê-los.

Poderá pensar que sou um incondicional defensor do eólico. Não sou (no presente enquadramento económico). O que se passa é que o preço pelo qual é vendida a energia eléctrica produzida é fixado administrativamente (por decreto) e não decorrente dos jogos de mercado, em competição com outras formas de produção. Dado que o preço fixado é altamente vantajoso, toda a gente quer instalar eólicas, mesmo em zonas em que a produtibilidade não é grande coisa. Este negócio chorudo e sem riscos também interessa às autarquias que cobram uma percentagem.

Mas a história não fica por aqui. Quando não há vento, as eólicas não produzem nada, e com vento fraco produzem bastante abaixo da sua potência nominal. O que significa que terá que haver outras centrais eléctricas que produzam o que as eólicas não conseguem produzir por não haver vento. Essas outras centrais, se forem térmicas, terão que estar sempre "quentes" para que possam arrancar suficientemente depressa e compensar o abaixamento de potência das eólicas, o que significa consumo de combustíveis (e respectivos custos e poluição). As centrais de compensação adequadas são as hídricas de albufeira cuja tomada de carga é rápida e não consomem combustíveis. Mas, quer umas quer outras, exigem investimentos, que são são justificáveis de per si mas como necessidade da instalação das eólicas. Logicamente, esses custos de investimento adicionais deverão ser tidos em conta quando se fala da energia eólica. Tudo isto significa que a economia da produção de energia eléctrica tem que ser analisada tendo em conta o conjunto de todas as centrais produtoras e não cada uma isoladamente. A satisfação do consumo de energia também é uma responsabilidade global.

Quanto à defesa do ambiente (e, sobretudo, à redução da nossa dependência energética) é obviamente útil aproveitar todas as fontes de energia nacionais e, particularmente, as renováveis e não poluentes. Mas, e aqui vêm os ambientalistas, continuam estes a protestar energicamente contra as centrais de albufeira (Foz Côa, Baixo Sabor, etc), como se não se tratasse de uma energia não poluente e renovável.
Os efeitos para a paisagem serão sempre de contrapor ao efeito que a queima de combustíveis produz. Se a produção de CO2 agravar significativamente o aquecimento da Terra, aquilo que não se perder por não se construirem centrais hídricas ou eólicas, acabará por se perder devido à seca. Mas não se use o argumento ambiental para justificar negociatas.

(António Tavares Pires)

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Como refere e bem no seu “post” os parques eólicos proliferam hoje como cogumelos em Portugal, aparecendo em todos os cabeços de todas as serras. Esta é uma realidade que não acontece pela bondade ecológica dos investidores, mas única e exclusivamente pelas contrapartidas financeiras existentes para todos os intervenientes: para as empresas que para além de beneficiarem de apoios à construção das infra-estruturas, recebem também um subsídio pela produção da “energia verde”; para os proprietários dos terrenos, quer sejam eles privados quer sejam comissões de baldios, que assim recebem uma renda, muitas vezes elevada pelo arrendamento de terrenos que de outra forma não gerariam qualquer valia; para as autarquias que muitas vezes entram no negócio integrando as sociedades de exploração criadas.

Em territórios deprimidos, carenciados, esta nova realidade é uma espécie de “el dorado”, uma fonte de riqueza que ninguém negligencia ou desperdiça. As alterações profundas que estas infra-estruturas geram na paisagem (e não são só os aero-geradores, são também os acessos que são rasgados e as linhas de transporte de energia que são construídas), não são tidas em conta nem por decisores, nem pelas populações. São até muitas vezes aplaudidas! A paisagem não é por enquanto (e não sei se algum dia o será) um recurso a preservar. É um bem intangível, analisável subjectivamente, que no nosso país ainda não é valorizado nem intrínseca nem extrinsecamente.

Se perguntar a qualquer autarca do interior do país quais são as áreas de negócio que ele entende serem as alavancas para o desenvolvimento do seu concelho, terá respostas diversas, mas com toda a certeza o “turismo” será uma delas. Esquecem-se contudo que o turismo também se desenvolve em torno do “produto paisagem”, e não apenas em torno da gastronomia, do património construído, etc. Mas se a esse mesmo autarca for proposta a construção dum parque eólico, não haverá hesitações, será aprovada, com o aplauso dos seus munícipes. Incongruência de um país que apesar de tudo o que se diz e faz tem recursos para competir internacionalmente com outros países, por exemplo no sector turístico, mas que não tem depois os habitantes que o permitam.

(António de Campos)

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Embora concorde que a instalação dos equipamentos de captação de energia eólica deveria ser objecto de estudos de impacte ambiental e de projectos paisagísticos, à imagem do que já vi acontecer noutros locais, através da promoção de concursos de arquitectura paisagista, por exemplo, sei também que o mundo real, em especial o português, está muito longe da perfeição e que, provavelmente, se houvesse lugar a esses estudos e projectos (que, mais uma vez, defendo) eles seriam sempre "adaptados" às conveniências do "lobby" em questão e serviriam apenas para mais alguns "próximos" do "lobby" ou, pior, dos "próximos" dos "poderes instalados", beneficiarem com o "negócio". Portanto, entre as opções "mal e depressa" e "um dia, quem sabe..." (depois de estudos e contra-estudos e de concursos e concursos contestados e impugnados), talvez a primeira opção seja a mais válida, infelizmente.

Já para não questionar a adopção de políticas que favorecem a solução eólica em detrimento da solar, num país quase sem vento (quando comparado com o resto da Europa) mas, em compensação, com muitas mais horas de sol por ano (quando comparado com o resto da Europa).
Como disse uma antigo Ministro da Energia, do tempo de Cavaco, às pessoas ligadas aos sistemas solares: "Meus amigos, organizem-se!".

Isto sim, é poluição visual. E dinheiro deitado à rua. O nosso dinheiro.

PC

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Ouvi recentemente dizer ao administrador de uma das empresas que produzem energia eólica o seguinte: "alinhados, os aerogeradores que ainda falta construir em Portugal, seriam uma linha com 600km de comprimento".

Em Janeiro vai a concurso o triplicar da situação actual (da potência actual ainda não se construiram todos os parques), imagine-se então que cumeadas de serra com altitude acima de 700m ficarão livres. Uma preocupação: porque não desenhou o Administração Pública o mapa da localização dos parques eólicos? Não seria sua competência fazê-lo? Ministérios do Ambiente reaccionários (de só agirem em reacção aos problemas) são muito ineficazes e não nos evitam algumas asneiras. As condicionantes à localização até são simples: disponibilidade de pontos de entrega da electricidade na rede, vento, inexistência de outras condicionantes do ordenamento do território...

Uma curiosidade (que julgo não ser falsa e, se bem me lembro, é dita nos Guias de Portugal do Raul Proença): A Região do Oeste apresenta a maior densidade de moinhos da Europa (do Mundo?). Quem conhece a estrada de Madrid a Saragoça sabe que, aí, o recorde do Oeste foi amplamente batido...

As tecnologias da EE eram há pouco tempo muito mais impactantes na paisagem, hoje faz-se mais electricidade/moinho, e, dentro de 30 anos, parece que os moinhos serão removidos. Trata-se de uma solução de recurso para as nossas necessidades energéticas.

Interessou-me a ideia (ouvi-a também aquele administrador) de ser possível construir um megaMEGA parque eólico no Mar do Norte, uma espécie de seara de moinhos, com o objectivo de dotar toda a Europa de energia eléctrica...Não se justificará o medo de ver a Terra sair de órbita por força de tanta hélice a rodar.

(A. Carvalho)

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