ABRUPTO

4.10.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
ECLIPSES VÁRIOS

À boleia da sua nota "Um eclipse a ver" na revista Sábado, e da ideia que aproveitou Hergé para safar o seu herói de apuros, não resisto a dizer que talvez esse ardil do Tintin não fosse muito original. Ou melhor, não resisto a recomendar um livro delicioso de um fabuloso mestre da literatura, Mark Twain.

O livro intitula-se " Um americano na corte do Rei Artur" e conta as aventuras de um cavalheiro de indústria de Hartford, Connecticut, que tendo sofrido um forte safanão de um dos seus operários em finais do século XIX, acorda em ...Camelot. O desorientado sujeito ao recuperar a consciência é intimado, nem mais nem menos que por Sir Kay, Senescal da Corte, a justar, que é como quem diz a travar uma lide de armas por terras ou dama ou honra.
Indeciso entre as hipóteses de se encontrar num manicómio ou num circo, é imediatamente recrutado como prisioneiro do senescal para "no devido tempo, segundo o costume, ser encerrado numa masmorra e abandonado ali com escassas provisões, até que os amigos o resgatassem, a menos que apodrecesse antes". Isto não sem antes ser exibido ao rei e distinta corte para gáudio dos valentes nobres e frágeis damas e ilustrar as extraordinárias façanhas do cavaleiro que teve a boa dita de o aprisionar.
Condenado a morrer na fogueira, o infeliz e perplexo herói, ao descobrir que será queimado a 21 de Junho de 528, lembra-se de que nessa data ocorreu um eclipse e começa a vislumbrar uma escapatória para a sua delicada situação.

E mais não conto. É mais uma magistral sátira de Mark Twain, desta vez ao espírito cavalheiresco da nobreza medieval.

Não sei se será fácil encontrar este livro em português (o meu é uma edição da Portugália não sei de que ano, oferecido pelo meu avô e muito estimadinho), mas quem quiser pode encontrá-lo na versão original no site The Great Books. Vale a pena o livro e vale a pena o portal.

(Micaela Aparício)

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Aquele truque de invocação do eclipse não é original do Tintin. Já vem nas Minas de Salomão do Rider Haggard, que o Eça traduziu... (*)

(Vasco G. M.)

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Nem de propósito o começo do seu "post" para ver o anel que a Lua vai enfiar no Sol
Tendo a nossa imprensa escrita e falada divulgado até à exaustão o eclipse solar anular e não tendo, tanto quanto tenha lido ou ouvido, alguma alma caridosa tomado a inicitiva de emendar a alarvidade dos "pindéricos jornalistas" aqui vão dois links ( UM,DOIS) que comprovam que o eclipse é anelar e não anular, podendo ainda ser total ou parcial.

(Fernando Frazão)

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... quanto ao nome do eclipse, basta ver no dicionário em linha da Texto que as duas formas anelar e anular são sinónimas, e que quem usa anular são jornalistas mas também astrónomos.

(S.)

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Foto de Amílcar Lopes António

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Eduardo Proença, Eclipse, Oeiras, 9.53

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(*) E numa história que o filho de Colombo conta sobre o pai, acrescento eu...

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A sua observação «E numa história que o filho de Colombo conta sobre o pai, acrescento eu...» não está correcta; o eclipse em questão foi lunar e não solar. Não havia no tempo de Colombo conhecimentos suficientes para prever um eclipse solar com o grau de precisão que a história exige, pois ele não sabia a que longitude se encontrava. Em contrapartida, é muito mais fácil saber-se que vai ocorrer um eclipse lunar numa dada região mesmo sem se saber exactamente onde se está, pois o tempo durante o qual a Lua está no cone de sombra é de várias horas.

Pode ver uma ilustração deste acontecimento aqui.
(José Carlos Santos)

(url)

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