ABRUPTO

6.10.05


MUITO, MUITO PREOCUPANTE



é a erosão de direitos fundamentais que se está a dar a pretexto da luta contra a corrupção e a evasão fiscal, contida em propostas como a que o Presidente da República fez hoje sobre a inversão do ónus da prova. Empurrado pelo populismo, pela visão jacobina e socializante, procura-se, com a diminuição de direitos fundamentais, esconder a incapacidade de ter um sistema eficaz de combate à criminalidade e à evasão fiscal. Muito, muito preocupante.

PS. - Passou também sem grande polémica a possibilidade da polícia de trânsito utilizar as câmaras da Brisa para vigiar os automobilistas...

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(...) no Canadá não foi permitido ao governo colocar câmaras nas auto estradas.

(Liberal Correia)
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José Pacheco Pereira tem sido dos poucos que tem alertado para vaga de intromissões do Estado na vida privada baseadas nos argumentos da "segurança rodoviária", do "crime económico e da corrupção" e sobretudo do "combate à evasão fiscal".
É muito perigoso aquilo que tem vindo a acontecer. Propostas como a inversão do ónus da prova, a utilização de câmaras como polícias nas auto-estradas, tornar a declaração de rendimentos pública, são ideias que se podem revelar muito perversas.
Na análise destas questões não podemos ter uma análise utilitária, calculando a liberdade perdida face à segurança/igualdade/justiça adquiridas. Uma análise deste género admitiria qualquer resultado, e é aquela que fazem os regimes securitários e totalitários.

Qualquer uma destas propostas (algumas já foram aprovadas e outras estão já em vigor) revestem-se de uma absoluta excepcionalidade num Estado de Direito democrático e liberal. Ora aquilo a que assistimos é à banalização do controlo, justificado pelos desígnios mais variados. A justeza e pertinência destes desígnios não nos devem afectar perante a perda de liberdade. Foi sempre assim que ela foi perdida. Viver em democracia e em liberdade implica certos custos para a nossa segurança e condição. Ao inserir estes custos numa equação utilitária, o resultado só pode ser o de admitir mais uma restrição, mais uma limitação, mais um controlo. Tudo à custa de mais um atropelo aos princípios fundamentais do Estado liberal, que existem exactamente para não serem inseridos em equações de segurança e justiça.

Talvez o mais preocupante nesta questão seja a falta de veemência com que defendemos a nossa liberdade, dado o preconceito existente na sociedade por aqueles que parecem recusar aqueles objectivos de igualdade, justiça e segurança. Dentadinha a dentadinha o Estado vai roendo a nossa liberdade e quando nos cercar, aí por fim, será perguntada e pergunta eterna da História: "como foi que chegámos aqui"? A liberdade também existe nas coisas pequenas e triviais. E nos últimos tempos já não falamos de coisas triviais

(João Lopes)

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