ABRUPTO

6.10.05


COISAS DA SÁBADO:
TEXTOS ESQUECIDOS



Temos pouca memória e, com o tempo, perdemos ainda mais esse escasso fio que nos une ao passado. Periféricos de quase toda a história do século XX, escasseiam entre nós os testemunhos portugueses dos grandes acontecimentos mundiais. Mas, quando se é bibliófilo encontram-se preciosidades, dezenas, se não centenas, de livros ignorados, que, pelo menos em textos escolhidos e em antologias, mereciam ser salvos do esquecimento.
É o caso destas memórias alemãs do Visconde do Porto da Cruz, um adepto do Nacional-Socialismo, palestrante aos microfones da Rádio Berlim, admirador do povo alemão, anti-semita, que assistiu em Berlim e em Munique aos últimos dias do Reich e aos primeiros meses de ocupação, e nos dá um testemunho em que se misturam recordações pessoais, boatos, opiniões, anedotas e incidentes.

O Visconde publicou o seu livro logo a seguir, em 1946, com elogios à heroicidade de Goebbels, manifestada entre outras coisas no seu suicídio e da mulher, matando os cinco filhos, na Chancelaria, na solução soft do “problema judeu” com o envio dos judeus para Madagáscar, a "limpeza" de Berlim dos comunistas feita por Goebbels e a reconstituição do PC Alemão com antigos nacionais-socialistas. O Visconde também relata alguns episódios retratando as vicissitudes de um não-ariano, um português, na Alemanha nazi dos últimos dias.

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© José Pacheco Pereira
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