ABRUPTO

14.9.05


COISAS DA SÁBADO:
A “INFOROPINIÃO”, A INFORMAÇÃO A QUE TEMOS DIREITO (2)



O PODER DE CLASSIFICAR

Uma das características da “inforopinião” está em reclamar unilateralmente o poder de nomear, mesmo á revelia dos nomeados. No que diz respeito às classificações políticas esse poder de nomear, de chamar um nome, de impor uma classificação a alguém, é ele próprio impregnado de política. É política, não é jornalismo, porque essas classificações não são neutras, nem meramente descritivas. Não é preciso ir mais longe do que a história do “PPD-PSD”, ou a flutuação entre CDS e PP, que traduz muito da história recente do CDS-PP.

Pois bem, em que manual de estilo, código deontológico, ou outro código de normas se baseiam os jornalistas para usarem indiscriminadamente como agora usam a classificação de esquerda / direita? Em nenhum, apenas numa generalização de uma classificação que tinha entrado em desuso no sistema político português até que foi retomada pelo PP de Portas e pelo BE como instrumento identitário. Hoje, a classificação esquerda / direita é redutora e serve principalmente o discurso da esquerda, e depois da direita mais radical.

Os jornalistas que não chamam, por norma, ao BE um partido de extrema-esquerda, nem ao PP [de Portas] , de extrema-direita, o que podiam fazer em bom rigor, por que razão chamam ao PSD um partido de direita e não de centro, o que também se poderia justificar quando se usa estas classificações? Se fossemos por aqui ver-se-ia bem como o poder de nomear tem claros efeitos na luta política. Sendo assim, que direito tem um jornalista numa notícia de distribuir classificações de direita e de esquerda para grupos políticos que nelas não se reconhecem? Nenhum.

*

Li atenta e repetidamente o seu "post" a propósito do "Poder de Classificar" e questiono-me se o terei percebido de uma forma demasiado simplificada.

Está-se à procura de jornalistas objectivos, que sejam imunes à utilização da terminologia comum, cinjindo-se às designações oficiais? Não sou jornalista, também não tenho particular estima pela classe, mas penso que a sua censura aponta para algo de demasiado utópico.

Talvez alguns façam as classificações que descreve motivados por razões de caracter estritamente político, só que possivelmente a maioria dos jornalistas fa-lo-á por um prosaico arrastamento que se estenderá depois aos leitores.

É prosaico, tem muito de moda, é pouco aprofundado, mas é que o fez vender o "Equador" e o livro do José Gil, ainda faz vender "Expressos" e torna interessantes as piadas a propósito das intervenções televisivas de António Vitorino e de Jorge Coelho.

No caso concreto que aponta, o Sr., que até goza, como comentador e colaborador, de uma posição ímpar em vários órgãos de comunicação social, pode tentar neutralizar a classificação do PSD como partido de direita. Até pode ser que não consiga. Porque a localização faça algum sentido.

É que suponho que também o PC gostaria que muitas das suas actividades fossem noticiadas como as da grande "coligação unitária" de que faz parte... Mas confesso-lhe que o mito da FEPU, da APU, da CDU (está quase a celebrar os 30 anos...) já está bastante gasto. E não posso censurar nenhum jornalista por não lhe prestar atenção nenhuma.

(A.Teixeira)

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© José Pacheco Pereira
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