ABRUPTO

17.6.05


TESTEMUNHOS DA VIOLÊNCIA URBANA / O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Já o disse na Quadratura e repito-o aqui: a comunicação social, em particular a televisão, falhou completamente na sua missão sobre o que se passou em Carcavelos. Valia a pena fazer um trabalho de jornalismo colectivo tentando não só repor os factos, mas também confronta-los com as “notícias” e seus responsáveis. Tudo isto é demasiado sério, teve demasiadas repercussões, para que fique tudo na mesma. Por seu lado, a forma como o debate político se apossou de forma imediata dos acontecimentos, confrontando-se as habituais teses securitárias ou laxistas na interpretação do que aconteceu, sem cuidar de saber o que aconteceu, torna ainda mais difícil um esclarecimento fundamental para se tirarem conclusões.

Alguns leitores do Abrupto enviaram textos testemunhais e comentários sobre a violência urbana e os acontecimentos de Carcavelos. São bem-vindos, para ajudar a interpretar. São testemunhos, com todas as vantagens e os inconvenientes dos testemunhos, mas ajudam-nos a entender não só factos como percepções sobre os factos. É que esta matéria é das mais graves que se possa imaginar nos dias de hoje porque corrói a nossa vida colectiva.

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Ouvi ontem no programa 'Quadratura do Circulo' as suas observações ao já apelidado 'arrastão' de Carcavelos. Claro que penso ser impossível quantificar os ditos 500 indivíduos, mas baixá-los para 40 ou 50 é completamente excessivo. Moro muito perto da zona, conheço gente que lá estava, e posso-lhe garantir que era um numero muito expressivo de garotos, normalmente 'capitaneados' por um mais velho e dados os relatos de testemunhas insuspeitas, a movimentação era coerente e deliberadamente dispersa para melhor confundir as pessoas, o que pressupõe alguma preparação prévia e alguma comunicação entre os grupos, esses sim de 40 a 50 miudos.

Não vale a pena abordar as já tão decantadas razões sociais ou de prevenção. O que me preocupa, é se não estaremos perante um movimento com motivações políticas, do tipo do que assolou a América nos anos 60. Como sabe, uma pequena elite bem politizada pode com facilidade aproveitar-se destes pequenos gangs, utilizando os mais variados pretextos identitários, tornando-os verdadeiros operacionais, mesmo que eles não estejam conscientes da sua utilização política.

(JM)
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O que aconteceu em Carcavelos é grave, gravíssimo, mas na verdade só o é porque apareceu na televisão.Confude-se cada vez mais a realidade com a televisão.A maior parte da realidade não aparece na televisão.

Tenho uma loja de conveniencia na Av da Liberdade. No dia das marchas era para estar aberta até às duas da manhã. Fechou à uma, tendo os empregados fingido que sairam pelas traseiras, pois um gang armado de pistola preparava-se para a assaltar. Isto passa-se na Av da Liberdade no centro de Lisboa.Com milhares de pessoas na rua. Um comerciante pode ser roubado todos os dias que não acontece nada aos ladrões. É permitido roubar.

Um amigo meu tinha varios supermercados nos arredores de Lisboa. Um na charneca da Caparica foi assalto 5 vezes num ano , um delas à mão armada as outras enfiaram um carro pela montra dentro Em Santo Antonio dos Cavaleiros onde ele tinha outra loja , era assaltado todos os dias por gangs. O gerente era espancado regularmente.No Monte do Estoril,onde ele tinha outra loja, foi assaltado à mão armada tendo a espigarda de um dos assaltantes diparado acidentalmente um segundo depois de ter estado apontada à cabeça de uma caixeira. Ele vendeu os supermercados e agora joga na bolsa...È mais seguro...Assim só perde dinheiro.

Quando um gang entra numa loja não há nada a fazer a não ser tentar ser amigo deles. Estamos em cima de um barril de pólvora, o que aconteceu em Carcavelos não acontece mais vezes porque a rapaziada dos gangs ainda não percebeu bem o poder que realmente têm. Podem, na realidade fazer o que lhes apetecer. Ainda não houve bairros saqueados porque ainda não se lembraram disso. Mas qualquer dia lembram-se. E daí até à «justiça popular» é um instante. Se o Estado não toma conta disto rapidamente podemos estar nas vésperas de um massacre.

(FM)
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Então agora deu em "postar" testemunhos da irmandade branca?
É claro que existe um problema na sociedade portuguesa com os imigrantes e não só com os de ascendencia africana. E se quiser ser justo (assim como a sua luta pelo não a esta constituição europeia se baseia no principio da igualdade entre paises) e imparcial, deveria postar ou tentar ouvir a "voz" dos africanos, ucranianos, moldavos que sofrem na pele todos os dias a exclusão que se manifesta em empregos onde o patrao não paga e nada lhe acontece ate a sua exclusao que se manifesta em meras situações sociais.

Diz o sr. JC no seu post que teme que se esteja a repetir o ue aconteceu na America, mas esse senhor teme que as pessoas lutem por uma igualdade de oportunidades? Esse senhor sabe o que eram os negros na America nessa altura?Este post é mero populismo.

E vejo que apoia a manifestaçao da Frente nacional. Porque o seu silencio quanto a isso e compremetedor.

(Antonio Rosa)


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RAZÃO teve Pacheco Pereira quando, na «Quadratura do Círculo», verberou a actuação da Comunicação Social na cobertura dos acontecimentos de Carcavelos. De facto, de 2000 indivíduos passou-se rapidamente para 500, depois para 400, e a breve trecho para apenas 50. E ontem mesmo (e sem humor), «A CAPITAL» garantia que, afinal, não sucedeu nada.

Por via das dúvidas, leia-se o que disse a Direcção Nacional da PSP e se encontra transcrito aqui. Mas, mais saboroso do que o conteúdo dessa notícia, ainda é o respectivo título - da autoria de um lírico anónimo: SÓ 50 ROUBARAM E AGREDIRAM

Ora este «SÓ» vale bem um prémio! Não de poesia, claro (pois esse pertence, por direito, a António Nobre), mas de ridículo.

(Carlos Medina Ribeiro)

(url)

© José Pacheco Pereira
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