ABRUPTO

11.6.05


OS LIVROS DA SÁBADO

LER ARISTÓTELES

A edição pela Imprensa Nacional das Obras Completas de Aristóteles, de responsabilidade de uma equipa coordenada por António Pedro Mesquita, é uma boa excepção e um bom exemplo. Exemplo de edição e exemplo de trabalho universitário, academicamente rigoroso, mas voltado para fora, para a pessoa comum que é amadora do saber e que passa a ter os textos de Aristóteles traduzidos em português dos nossos dias.

É sintoma dos tempos de incultura generalizada que vivemos, que pareça bizarro falar aqui de Aristóteles, um filosofo cujo nome ainda é razoavelmente conhecido, mas cuja obra é muito menos lida do que a de Platão no ensino secundário. Bom, em bom rigor, considerar que a de Platão é lida é um exagero… Voltemos a Aristóteles com um argumento yuppie: Aristóteles é um filósofo “vencedor” na nossa cultura e mesmo que não o conheçamos está por detrás de muita coisa a que nos habituamos e já não lhe atribuímos a autoria. Na “competição” intelectual que atravessou a Idade Média, mediada em particular pela Igreja e pelo seu grande Doutor, Tomás de Aquino, foi Aristóteles que passou para a escolástica e através dela para muito do “modo” de pensar dos nossos dias. De passagem, diga-se que os portugueses foram bons discípulos.

Para o leitor comum, vejam-se, por exemplo, alguns textos “menores” como os que se encontram em Os Económicos. De que se trata? De economia? É controverso que os gregos entendessem a palavra como hoje a usamos. Aristóteles fala da “arte de administrar uma casa” e uma cidade (polis) e dá bons conselhos às “esposas”. Mas, na listagem de casos e observações “económicas” encontramos muita coisa que directamente diz respeito à “economia política”, e às relações sociais e humanas que a determinam.

Também na leitura de Aristóteles se aplicam os conselhos económicos imemoriais, recordados por um líbio perguntado sobre qual era o melhor estrume para os cavalos e que respondeu:”as pegadas do amo”.

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© José Pacheco Pereira
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