ABRUPTO

17.6.05


NOTAS BREVES SOBRE OS ÚLTIMOS DIAS


Alguém diz (e pelos vistos ninguém disse, mesmo estando tudo ligado por auricular) aos senhores e senhoras jornalistas (da SIC e da RTP) que repetiam à saciedade que “agora iam cantar a Internacional Socialista”, que não existe nenhuma canção revolucionária chamada “Internacional Socialista”, mas sim a “A Internacional”, uma velha música já centenária e que é suposto ser de cultura geral conhecer?

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De igual modo, alguém diz a uma senhora jornalista (da RTP?) que não se está de “pulso erguido”, mas sim de punho erguido, e que punho e pulso são partes diferentes do corpo e que, a não ser que se seja amputado, não se “ergue o pulso” sem erguer a mão?

Adenda: ver Microfone Cego em Alice Vem Jantar.

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Uma das tendências da comunicação social dos tempos recentes é a obtenção de opiniões de pessoas que são académicos de profissão sobre matérias estritamente políticas enquanto académicos. Esta prática era já comum na área da economia ou da ecologia, onde o político quase que desapareceu, e hoje alastra para todos os domínios, mesmo os da política “pura”, com a crescente audição de “politólogos”, que o que fazem é emitir opiniões políticas como quaisquer outras.

A ideia que preside a essas consultas é a mesma que leva os políticos a, sempre que há uma matéria difícil, fazer-se substituir na decisão por comissões “de especialistas”, de “peritos”, e insere-se no pressuposto que é possível haver uma voz técnica que possa, em nome desse conhecimento técnico, definir uma solução política. Na prática, é mais um dos sintomas da recusa da política e das suas responsabilidades e da prestação de contas correlativa, muito forte num país que herdou do salazarismo o ódio ao político e a paixão do consenso por cima da luta política.

A voz do conhecimento, da técnica, da ciência, tem o seu lugar na decisão ou opinião política, mas não é da mesma natureza dessa decisão, nem pode ser colocada no lugar dela. É importante conhecer as qualificações profissionais de quem omite opinião, e a qualidade de historiador ou cientista político são relevantes, como a de empresário ou economista igualmente o são quando se trata de opiniões que correspondem a um domínio do saber ou da actividade profissional. Mas isso não as torna outra coisa diferente de opiniões políticas, de cidadãos, no espaço público, nem lhes dá uma legitimidade acrescida enquanto opiniões de natureza política. O resultado desta confusão está patente no exemplo de hoje da Capital, igual pela sua natureza a muitos outros (Eleições autárquicas - Para os especialistas em ciência política, a ausência de coligações e a transferência de votos do eleitorado de esquerda beneficiam PS. Divisão da direita ajuda candidatura de Carrilho). O resultado ou são truísmos (a transposição de um resultado académico ipsis verbis para uma afirmação de carácter político raras vezes resulta noutra coisa) ou são puras opiniões políticas, a que o estatuto académico dá uma aura de isenção e intangibilidade que confunde o debate público.

(Continua)

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Também houve outras "engraçadas" (tristes, mas que dão vontade de rir):

1 - Jornalista pergunta: Então o PCP vai continuar a ser comunista?

resposta: Claro !

Pergunta: e Marxista-Leninista?

Resposta: É ideologia comunista !!!!

2 - Ouvia-se o Hino Nacional e diz o jornalista: Canta-se agora o Avante!

3- Entram agora no crematório !

(Pedro Castaño)

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© José Pacheco Pereira
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