ABRUPTO

25.6.05


EARLY MORNING BLOGS 526

A Supermarket in California


What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families
shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?

I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber,
poking among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery
boys.
I heard you asking questions of each: Who killed the
pork chops? What price bananas? Are you my Angel?
I wandered in and out of the brilliant stacks of cans
following you, and followed in my imagination by the store
detective.
We strode down the open corridors together in our
solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen
delicacy, and never passing the cashier.

Where are we going, Walt Whitman? The doors close in
an hour. Which way does your beard point tonight?
(I touch your book and dream of our odyssey in the
supermarket and feel absurd.)
Will we walk all night through solitary streets? The
trees add shade to shade, lights out in the houses, we'll both be
lonely.

Will we stroll dreaming of the lost America of love
past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?
Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher,
what America did you have when Charon quit poling his ferry and
you got out on a smoking bank and stood watching the boat
disappear on the black waters of Lethe?


(Allen Ginsberg)

*

Bom dia!

ª

Por gentileza do Nuno Guerreiro da Rua da Judiaria que lá publicou esta tradução:

Um Supermercado na Califórnia (1955)

Que pensamentos teus tenho esta noite, Walt Whitman, porque
caminhei pelas ruas sob as árvores com uma dor de cabeça
auto-consciente olhando para a lua cheia.
Na minha faminta fadiga, e procurando imagens, entrei
no supermercado de frutos de néon, sonhando com as tuas enumerações!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras
fazem compras à noite! Corredores cheios de maridos! Mulheres nos
abacates, bebés nos tomates – e tu, Garcia Lorca, que
fazias tu junto às melancias?

Eu vi-te, Walt Whitman, sem filhos, velho cavador solitário,
apalpando as carnes no frigorífico e olhando os rapazes
do supermercado.
Ouvi-te fazer perguntas a cada um: Quem matou as
costeletas de porco? A como são as bananas? És tu o meu anjo?
Vagueei dentro e fora da brilhante pilha de latas
seguindo-te, e seguido na minha imaginação pelo segurança
da loja.
Caminhámos juntos pelos corredores abertos na nossa
solidão ilustre provando as alcachofras, possuindo todas as delícias
congeladas, sem nunca passar pela caixa.

Onde vamos nós, Walt Whitman? As portas fecham daqui
a uma hora. Em que direcção aponta a tua barba esta noite?
(toco o teu livro e sonho com a nossa odisseia no
supermercado e sinto-me absurdo.)
Caminharemos toda a noite por ruas solitárias? As
árvores juntam sombra a sombras, luzes apagadas nas casas, estaremos ambos
solitários.

Caminharemos sonhando com a América perdida do amor
passando por automóveis azuis à entrada das garagens, em direcção à nossa cabana tranquila?
Ah, querido pai, barba grisalha, velho solitário professor-coragem,
que América tinhas tu quando Caronte deixou de puxar a sua balsa
e tu desceste numa margem fumegante e ficaste a olhar o barco
desaparecendo nas águas negras do Rio do Esquecimento?


(Allen Ginsberg (1926 – 1997), poeta, judeu americano.)


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© José Pacheco Pereira
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