semper idem
Ano XIII
...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ...
(Sá de Miranda)
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6.5.05
12:09
(JPP)
DOIS ANOS
HUGO VON HOFMANNSTAHL (NUMA TRADUÇÃO INÉDITA DE VASCO GRAÇA MOURA)
Tercinas
Sobre a fugacidade de tudoI
Inda lhes sinto o hálito na face: pode lá ser que este correr de dias para sempre e de todo assim passasse?
Ninguém entende coisa tão estranha, cruel demais pra queixas e agonias: que deslizando, nada se detenha.
E que o meu próprio eu, imperturbado, de um menino pequeno até mim venha, cão de estranheza inquieto e tão calado.
Mais: que eu fosse há cem anos, e sabê-lo, que cada avô dos meus, amortalhado, esteja tanto em mim como o cabelo,
sendo um comigo como o meu cabelo.
II
As horas! Onde nós o azul claro do mar vemos e a morte se nos fez leve e sem medo, em festa e sem reparo,
como meninas só de palidez e grandes olhos sempre se resfriam, e à tarde olham perdidas, na mudez
de ver que a vida, enquanto adormeciam seus membros, lhes fluiu silente e langue em árvore e erva, e tímidas sorriam,
como uma santa enquanto verte o sangue.
III
Nossa matéria aos sonhos é igual e os sonhos abrem olhos à maneira de umas crianças sob o cerejal.
Das copas, ouro pálido se esgueira da lua-cheia e a vasta noite alcança... senão, sonhos não há à nossa beira.
Vivem aí qual riso de criança, e como a lua-cheia sobem, descem, quando desperta sobre a fronde avança.
O mais íntimo se abre a quanto tecem; quais mãos-fantasma sempre num tristonho espaço estão em nós e vida oferecem.
E os três são um: homem e coisa e sonho.(Hugo von Hofmannstahl)
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© José Pacheco Pereira
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