ABRUPTO

5.5.05


DOIS ANOS


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA


Os provérbios, que são evangelhos humanos, fê-los a experiência, e conserva-os a prudência para doutrina e direção da vida, e não para descuido, como acontece aos néscios, senão para cautela. E este é o fim do que por tantos meios deixamos provado na matéria de maior importância. Entre, pois, cada um em si, e pergunte à sua própria consciência: se Deus o chamasse no estado presente para a conta, qual lha daria? Dos verdadeiros devotos do Rosário, que são os que o rezam e meditam atentamente, bem creio eu que, exceto o caso de alguma desgraça, em que tão raro é o cair como fácil o levantar, todos os mais se acharão com as suas contas tão ajustadas que as darão muito boas. E a estes somente advirto que dêem infinitas graças a Deus e a sua Santíssima Mãe por tão singular mercê, por que lhes não aconteça como ao servo do Evangelho, que, por ingrato, veio a perder o mesmo perdão, e tornou de novo a contrair toda a dívida, e a pagou sem remédio.

Aqueles, porém, que se não acharem em estado de dar boas contas, considerem que nas Ave-Marias, que só rezam de boca, quando dizem: Nunc, et in hora mortis nostrae - o hora mortis, e o nunc, tudo pode vir junto. Dizemos, agora, e na hora da nossa morte, e se a hora da nossa morte for o agora? Se a hora da morte não for hora, senão este mesmo momento, como acontece aos que morrem subitamente, ou subitamente perdem os sentidos, sem tempo, nem lugar de arrependimento, que contas podem estes dar, ou que se pode esperar deles? Logo, dirá alguém, não é verdadeiro o provérbio que os que rezam o Rosário, darão boas contas a Deus? Sim é, se o rezar o Rosário for também verdadeiro. Porque ninguém há que verdadeiramente reze o Rosário que nele e nos seus mistérios não considere o muito que deve a Deus, e lhe não peça perdão de suas dívidas, como pediu o servo do rei, que para a sua misericórdia isso basta.

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© José Pacheco Pereira
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