ABRUPTO

28.4.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TEORIA DOS ORGASMOS A PARTIR DO GRANDE HOTEL

Do Abrupto, a proposito dos números antigos da revista pinga-amor «Grande Hotel», que o JPP comprou num alfarrabista:

«(...) O Vasco Graça Moura encontrou uma ontem: "no canto inferior esquerdo do fragmento do Grande Hotel que reproduz, lê-se: "breves, amenas conversas, mas que deixam na alma de Lucrécia uma trépida doçura". Uma "trépida doçura" será uma doçura a aquecer com um ruído de motor a gasóleo?".

Sim, se descontar o ruído. Apesar das fórmulas muitas vezes ingénuas, autores como esse da «Grande Hotel» ainda usavam a língua portuguesa com alguma sabedoria e correcção. Em minha opinião, o que o autor (ou, mais provavelmente, autora) tinha em mente é que a Lucrécia estava de tal modo apaixonada que tinha orgasmos só com a conversa. Bons tempos, esses da «Grande Hotel».

Informam-me várias senhoras que a coisa feminina é mais complicada que a masculina: ao que parece, existem os «orgasmos grandes» isolados, por vezes capazes de dar cabo da mobília e dos ouvidos dos vizinhos, que são os tais que se vêem com mais frequência nos filmes de Hollywood que no dia a dia, e existem os «orgasmos pequenos», que vêm em sucessao sem sismos de grau superior a 9, e as mais das vezes ficam por ai'.

De modo que a trépida doçura que permeava a alma da Lucrécia devia ser um pouco como aqueles riachos do Camilo que corriam a tremer: «As trépidas fontinhas, espelhando na limpidez dos seus meandros a inquieta alvéola que as roçava com as asas...» (Mulher Fatal, cap.2).

É claro que, se em vez de ter sido a «Grande Hotel» a descrever pequenitas burguesices, tivesse sido a Santa Teresa de Ávila a descrever extâses místicos, a compreensão teria sido imediata. Grande vida, a dos poetas...

(Fr. Inácio)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]