ABRUPTO

11.4.05


A LER

No NYT France Detects a Cultural Threat in Google e Jean-Noël Jeanneney, "L'intelligence, l'innovation ne sont pas seulement outre-Atlantique !" no Le Monde. "Estratégia de Lisboa" no seu pleno sentido chauvinista.

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Não vejo qualquer fundamento para classificar de chauvinista a ideia de as bibliotecas europeias iniciarem um processo de digitalização das suas colecções, usando os seus proprios recursos e fazendo a sua propria selecção. Nós, os leitores, só teremos a ganhar com uma maior oferta e diversidade. Por outro lado, sera que, por exemplo, a ESA, o ESO, o CERN, o EMBL são tambem manifestações de chauvinismo?!?

(MP)
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Os Franceses devem estar zangados porque o Google mostra 296.000 referências a "chauvinism" e apenas 50.400 a "chauvinisme". Mesmo como teoria da conspiração é idiota pensar que os "rankings" do Google servem para promover a cultura "anglo-saxónica" em detrimento da cultura "europeia". Será que o senhor Jeanneney acredita mesmo que há alguem sentado numa cave em Mountain View, California, cuja terefa é decidir o que é ou não "anglo-saxónico"? Ou tem simplesmente medo de perder o controlo da sua preciosa biblioteca para bárbaros cujo unico critério cultural é a utilidade? É triste ver como o medo da competição, medo do mundo, fecha as portas a quem esteja interessado na cultura francesa e pior, a quem por acaso poderia encontrar a cultura francesa no Google, e ficar interessado.

(Luis Teixeira)
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Também não concordo com o termo chauvinista. Digamos que os termos "mesquinho" ou "ridículo" serão mais adequados.

Sobre o comentário ao seu post, acho que a ESA, o ESO e principalmente o CERN não se fizeram por uma questão de sensibilidade europeia (Jean-Noël Jeanneney não nos dá a mais pálida luz sobre a que possa corresponder tal conceito, pelo que terei de ser eu a interpretá-lo, na minha triste condição de googledependente, que vê o mundo pelo prisma americano), porque não se pode argumentar seriamente que a descoberta do bosão de Higgs dependa de outra sensibilidade que não a dos detectores destinados ao efeito. Ou que o desvio para o vermelho das galáxias distantes seja interpretável à luz da graduação dos óculos dos astrónomos europeus. Ou que a sensibilidade do Ariane permite colocar em órbita satélites que de outra forma não seria possível lá colocar.

É com esta França que a União Europeia se vai afirmar no mundo?

(Mário Almeida)

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Quanto ao tema da iniciativa francesa, acho absolutamente delirante que um governante considere a hipótese de atacar um mercado onde actuam empresas privadas, utilizando para isso capitais públicos. Assim, ficamos a saber que um serviço que nos chega de uma forma gratuita terá brevemente um concorrente, que para os franceses terá o custo de uma parte dos seus impostos ser utilizada para o capricho de um governante.
A segunda ideia delirante, e esta verdadeiramente doentia, resulta da conclusão do responsável da Bibliotece Nacional de França, que o critério de classificação através do page rank é pouco credível e por isso a solução "à francesa" passa pela criação de um "grupo de sábios", que classificará quais os documentos mais importantes e por isso quais os documentos que devemos ler prioritariamente.
Este conceito de "grande orientador" passa de uma forma pacífica porque é proposto pelo governo francês. O que diria a nossa classe intelectual se esta proposta tivesse a assinatura de Berlusconi?

(Miguel)
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O que será mais penoso para os franceses é confrontarem-se com a pujança da cultura (universitária, científica, tecnológica, artística, literária, comunitária, etc.) anglo-saxónica, por contraposição à balofice retrógada, favoritista, subsidiada, orgulhosa e instalada que há tanto tempo marca as "superiores culturas latinas". O fenómeno GOOGLE nada mais significa do que o mensageiro que se pretende ver morto. Antes isso que colocar em causa o mito civilizacional da superioridade cultural latina em geral e francesa em particular. Doeria demais. Implicava mexer em demasiados orgulhos, em demasiadas estruturas organizacionais, em demasiados privilégios.

(Luís Pereira Coutinho)

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