ABRUPTO

4.4.05


DE "MARIA GRAÇA SAPINHO" A CATARINA EUFÉMIA: ALGUMAS FONTES

A discussão que se trava nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO sobre Catarina Eufémia revela as grandes dificuldades em tratar com distância os eventos da nossa história do século passado, em particular nos anos da ditadura. Nostálgicos do regime e / ou da história “oficial” do PCP , canónica para a oposição mesmo quando não era comunista, tornam toda a discussão uma polémica. Esta parece-me útil e reveladora, mas nela , em princípio, não participarei directamente.

No Abrupto e nos Estudos reproduzo apenas algumas das primeiras versões publicadas dos eventos na imprensa clandestina, que revelam a rapidez da difusão da notícia da morte, mas também as confusões com a identidade da "camponesa" (o termo era usado na época para designar aquilo que era, na verdade, uma trabalhadora rural). Tendo em conta o modo como funcionava a estrutura clandestina do PCP, isto parece indicar que o partido podia seguir de perto os conflitos rurais, quase em tempo real, mas aponta para que Catarina Eufémia não fosse militante ou simpatizante organizada do partido. Dois elementos suplementares sobre a clandestinidade: a cadeia de comunicação dependia dos encontros regulares dos funcionários controleiros, que devia ser pelo menos mensal; e as datas reais dos jornais (não dos panfletos) deve ser acrescentada pelo menos de um mês.

O assassinato deu-se a 19 de Maio de 1954 e a primeira notícia conhecida vem num panfleto da Organização Regional do Alentejo do PCP, datado de dois dias depois:



Como se vê Catarina vem identificada como "Maria da Graça", nome pelo qual é citada no Avante! Nº 187, de Abril-Maio 1954. No Camponês nº 44,de Maio-Junho de 1954, o orgão do partido para os campos do Sul, a notícia não refere sequer o nome:




No Camponês nº 45, de Agosto-Setembro de 1954, corrigia-se o nome de Maria Graça Sapinho pelo de Catarina Eufémia



Tendo em conta a relevância do acontecimento, tal como o percebemos hoje, o seu tratamento nos números seguintes do Camponês é residual e só em 1955 começa a ganhar dimensão acompanhando iniciativas de agitação local, como a “designação” do largo principal de Baleizão como “Catarina Eufémia”, e outras no primeiro aniversário da morte.

Ver também (se tal fosse possível sem pagar haveria ligação...) o artigo de Paula Godinho, "Ainda o mito de Catarina Eufémia", no Público de 4 de Abril de 2005.

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© José Pacheco Pereira
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